Não há Presépio sem burro e, movido pelo espírito de época, podia sentir-me tentado a desvalorizar o que é dito e tem similitudes com os zurros de um asno. Mas decidi não o fazer porque o silêncio dos justos pode ser um incentivo para que os torpes o confundam com tibieza.
Já há dias que me tinha deleitado com os números de contorcionismo, chamemos-lhe, intelectual de um biógrafo de um candidato às presidenciais que perora numa estação de televisão sobre as eleições de janeiro como se tivesse independência e distanciamento para um comentário objetivo.
Na altura, a flor em causa tinha optado pela surdina para procurar desvalorizar o órgão de comunicação social que, orgulhosamente, dirijo. Deixei que fosse o tempo, neste caso menos de um dia, a fazê-lo passar pela humilhação de ver o Observador, no qual é redator principal, a publicar, grosso modo, a mesma notícia que o 24 Horas tinha tornado pública e que ele procurava diminuir.
Há momentos – desvantagens do ócio de domingo e de uma tendência que não escondo de me divertir com as tais exibições circenses – vejo-o de novo a comentar notícias sobre o candidato que, presumo, lhe ditou a biografia, e a levar mais longe a insolência.
Desta vez fala de uma “suposta notícia num site chamado 24 Horas que está ligado a uma pessoa que já foi acusada no espaço público, por escrutínio jornalístico (…) da SIC (…) de andar a pedir dinheiro a políticos senão teriam notícias negativas”.
Entendo que quem se dedica a números na corda bamba pense que se esticar a corda tem mais chances de não cair, mas temo bem que desta vez se tenha enganado e se vá estampar. Vamos por partes e sejamos claros. As afirmações com relevância jurídico-penal que são dirigidas ao fundador e CEO do 24 Horas terão a resposta que este entender dar. Quanto aos grasnados que dão a entender que no 24 Horas o jornalismo é feito com recurso a métodos da Camorra, eu só posso legitimamente concluir que o dito redator principal pensa como fala: com defeito e de um modo em que é mais vezes a chacota do que o elogio que lhe dá destaque.
É que, apesar da similitude fonética, ainda há uma distância grande entre ser fanhoso e ser famoso.