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  • 'Embaraço-me porque votei AD', Ribeiro e Castro
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Jorge Morais

Dei com eles numa clareira do jardim do Campo Grande, alinhados como na parada de um quartel. Estavam ali guardados...

Dei com eles numa clareira do jardim do Campo Grande, alinhados como na parada de um quartel. Estavam ali guardados em sentido, todos de capa e batina, debaixo do sol teimoso de Outono. Uns trinta.

Rondando à sua volta, um tiranete baixote ladrava ordens imperativas, importantíssimo no papel de sargento com boca de rottweiler. De vez em quando, o carrasco levantava o chicote – e o pelotão urrava uma vogal. Depois, mais um período de instrução em que os carneiros eram ensinados a executar um conjunto de passos incongruentes, seguidos de braços levantados, acocorares insólitos e danças do ventre, meio termo entre majorettes e escravos das pirâmides. E mais um urro ao golpe do chicote.

Fiquei ali especado, tentando perceber o que teria acontecido à velha praxe académica para que ficasse reduzida a isto: berros guturais, gestos de caverna, formas sem conteúdo. E enquanto aqueles trinta buracos negros se entregavam à humilhação abjeta, o pensamento levou-me a vogar um instante pelo arvoredo do Campo Grande, sonhando com outras praxes.

Havia-as inspiradoras. Lembro-me de uma em que a vítima era levada a medir o comprimento de um edifício com um pau de fósforo – e estava quase a acabar quando lhe diziam que se tinha enganado lá atrás e era preciso recomeçar tudo. Bela metáfora sisifista sobre o trabalho nunca acabado neste mundo: matéria que o estudante podia rever no primeiro ano, em História da Filosofia Antiga I, quando estudasse a alegoria do filho do rei Éolo de Enarete, o valdevinos coríntio que enfureceu o velho Zeus e foi condenado a empurrar a pedra pela montanha acima até ao fim da eternidade, se é que esta tem fim.

Despertei do meu sonho idílico. O rottweiler dava por terminado o ensaio e ordenava o rebanho para a marcha até à Cidade Universitária, onde um agente das lojas de trajes tentaria ainda vender um último adereço para aquela farsa. E eu continuei ali especado, vendo desfilar o coro dos escravos. Daí a pouco entrariam, com a docilidade dos inocentes, na fábrica de salsichas onde se ensina a grande ignorância certificada. Acéfalos, em três anos sairiam bacharéis para os ‘call centers’. Analfabetos, em cinco, licenciados para as caixas do minipreço. Astutos, em sete, doutores para as fileiras partidárias e a ansiada manjedoura.

Dizem-me que é a praxe.