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Carlos Reis

A anunciada saída de Mariana Mortágua da coordenação do Bloco de Esquerda (BE) simboliza mais do que a simples mudança...

A anunciada saída de Mariana Mortágua da coordenação do Bloco de Esquerda (BE) simboliza mais do que a simples mudança de liderança: é o retrato do esgotamento de um projeto político que fenece irreversivelmente perante os nossos olhos.

O BE, outrora força vibrante e criativa da esquerda radical portuguesa, vive hoje o pior momento da sua história.

A sucessão de derrotas eleitorais, o afastamento do eleitorado urbano jovem que em tempos o seguia e admirava, e a incapacidade de se renovar perante a emergência de outras forças concorrentes e mais sedutoras para o seu eleitorado (o Livre, por exemplo) traçaram ao Bloco o bloqueio presente.

E o caminho futuro do BE parece mesmo ser o da sua absorção pelo Partido Socialista (se não orgânica, pelo menos eleitoral), logo que se complete a corbynização do PS e a consequente e definitiva tomada de controlo pelas suas gerações X e Millennial.

O BE é hoje um resquício em crise profunda — ideológica, estratégica e até emocional.

Mariana Mortágua assumiu o comando com o difícil legado de Catarina Martins, tentando equilibrar a herança de combatividade com uma imagem de competência, serenidade e maior alinhamento com a agenda woke. No entanto, o contexto para Mariana já era muito adverso: o “geringonçismo” deixou o Bloco preso entre a irrelevância parlamentar e a desconfiança de quem já só o vê como mero apêndice do PS. O eleitorado de protesto migrou para novas expressões — à direita e à esquerda — enquanto o discurso do BE se fechava cada vez mais num vocabulário identitário, distante das preocupações imediatas da maioria dos portugueses.

Acrescendo à exiguidade eleitoral das causas feministas, LGBTQIA e + variantes do abecedário, antirracistas e ambientais, a figura pouco empática e ressentida de Mariana.

O país enfrenta desafios estruturais deixados pelo socialismo — baixos salários, habitação inacessível, declínio demográfico, um SNS em crise, um Estado inchado e ineficiente — e o Bloco afunda-se na sua incapacidade política.

A verdade é que a retórica da “interseccionalidade” não paga rendas nem garante empregos.

Mariana Mortágua sai assim num momento em que o partido se encontra sem rumo e sem identidade, paradoxalmente vítima do próprio identitarismo que o consumiu.

O Bloco, que nasceu para dar voz aos sem voz, arrisca-se agora a falar apenas para um nicho. E num país cansado de moralismos e simbolismos, talvez essa seja a sua sentença definitiva: a de ser politicamente correto, mas politicamente irrelevante.