Henrique Gouveia e Melo, de 64 anos, revelou quem o fez decidir avançar para a candidatura a Belém: Marcelo Rebelo de Sousa (76). As declarações são reveladas no livro ‘Gouveia e Melo – As Razões’, que chega às bancas na quinta-feira, dia 24, onde o almirante recordou o momento em que leu uma notícia no Expresso, que dava conta da intenção do Presidente da República em travar a sua intenção ao reconduzi-lo como chefe da Armada.
“Foi esse artigo que me fez definir o rumo. Porque, quando o li, fiquei mesmo danado”, contou Henrique Gouveia e Melo.
Recorde-se que o artigo do Expresso em causa, publicado em outubro de 2024, indicava que Marcelo pretendia reconduzir Gouveia e Melo como chefe do Estado-Maior da Armada para evitar a sua candidatura presidencial, mas este só aceitava se houvesse um investimento significativo na força naval, chegando-se mesmo a referir a compra de mais submarinos.
Esta não é a primeira vez que Gouveia e Melo refere uma tentativa para travar a sua candidatura a Belém, através da sua promoção a chefe máximo das Forças Armadas. No entanto, desta vez, fala pela primeira vez em nomes e não aponta apenas o dedo ao Presidente da República: “De facto, o Governo – e também o senhor Presidente da República – não pareciam interessados em nada da Defesa, para além de fazerem umas correções nos ordenados dos militares. Assim, deduzi que o que pretendiam era que eu ficasse amarrado à Marinha com o eventual ‘prémio’ de, no fim, poder ser CEMGFA e atingir o topo da carreira militar. Pensaram, especulo eu, que ficaria muito contente por me darem a oportunidade.”
A alegada estratégia não surtiu efeito e Gouveia e Melo diz mesmo que o conhecem mal, já que aceitaria “ser príncipe só para cortar fitas”. O almirante que chefiou a Marinha e o processo de vacinação contra a Covid-19 refere que lhe queriam dar importância, sem lhe darem poder: “Foi aí que decidi: vou entrar no campo das verdadeiras decisões, a política.”
Henrique Gouveia e Melo não poupa críticas ao poder político, como a existência de “um certo autismo aos ventos de mudança e um alheamento perigoso do que se aproximava”.
O candidato a Belém acusa Marcelo Rebelo de Sousa de ter feito uma “coisa muito incomodativa” quando se colocou a questão da sucessão do almirante Mendes Calado como chefe da Marinha, em 2021, e terá dito que “não era necessário que o almirante Gouveia e Melo empurrasse o almirante Mendes Calado”. A frase foi, para Gouveia e Melo, “verdadeiramente assassina”, já que não empurrou ninguém.
Relativamente às eleições, marcadas para 18 de janeiro, Henrique Gouveia e Melo acredita que o seu “principal adversário” não está no “preconceito travestido de democracia” e lançou ainda uma farpa ao adversário Luís Marques Mendes, que já considerou que o almirante poderia ser “um risco enorme” e um perigo para a democracia:: “Senti que o candidato Luís Marques Mendes tinha ensandecido, por momentos…”