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A vitória de Zohran Mamdani nas eleições locais de Nova Iorque reacendeu entusiasmos na esquerda radical portuguesa.
Pedro Nuno Santos e a sua entourage, Mariana Mortágua e Catarina Martins, a cúpula do Livre, e até um desorientado José Luís Carneiro, vieram saudar a eleição do novo Mayor da capital do capitalismo como a nova lança sagrada de São Jorge que ao serviço do socialismo, mata o capitalismo odioso que nos submerge à escala global.
Muitos apressaram-se a celebrar o feito como sinal de uma viragem progressista nos Estados Unidos, como se o socialismo de bairro de Queens pudesse anunciar uma nova era política global.
Mas essa leitura apressada é mais um reflexo do desejo do que da realidade.
Mamdani, filho de imigrantes ugandeses, é uma figura notável — carismático, articulado, idealista e com um discurso que mistura justiça social, igualdade racial e políticas públicas assistenciais de proximidade.
No entanto, a sua vitória não traduz uma vaga nacional. É um fenómeno local, moldado por uma conjugação rara de fatores: uma circunscrição profundamente liberal, os dois últimos presidentes de câmara (democratas)terem sido uma desilusão e terminarem de forma péssima os seus mandatos, com o velho establishment desacreditado, e uma organização de base da candidatura muito disciplinada e um eleitorado urbano jovem, descontente e diverso. Em suma, o contexto ideal para um candidato à esquerda do Partido Democrata poder prevalecer.
Mas fora desse ambiente, a América é outra. Num país onde Donald Trump impera sem rival, e onde a insegurança económica alimenta o populismo de direita, o discurso de Mamdani — por mais inspirador que seja — está longe de encontrar terreno fértil.
A política norte-americana continua a ser dominada pelo medo, pela polarização e por um sistema que favorece o centro pragmático ou a retórica autoritária à direita, não as experiências socialistas de esquerda radical.
A esquerda portuguesa, fascinada com cada lampejo de sucesso progressista nos EUA, esquece-se de que o caso Mamdani é a exceção, não o prenúncio de uma nova norma.
Confundir um sinal local com uma tendência global é um erro de análise e, pior, de estratégia.
Em política, as vitórias simbólicas inspiram — mas só as vitórias estruturais transformam.