Não há coisa mais tóxica neste mundo do que as cimeiras contra a poluição. Que o diga Lula da Silva, anfitrião...
Não há coisa mais tóxica neste mundo do que as cimeiras contra a poluição.
Que o diga Lula da Silva, anfitrião da Cimeira do Clima e da COP30, agora a decorrer em Belém do Pará: ser muito amiguinho da floresta e autoproclamado “líder da agenda climática” não o impediu de outorgar à toda-poderosa Petrobrás uma generosa licença para prospeção de petróleo na Bacia da Foz do Amazonas, tesouro biológico dos mais preciosos da Margem Equatorial. Ali mesmo nas barbas da Cimeira ambientalista.
Que importa que a região esteja classificada como de elevada sensibilidade ecológica, abrigando um ecossistema marinho dos mais ricos do planeta, com recifes e espécies ameaçadas de extinção, como o peixe-boi, o boto-cinza, o boto-vermelho e muitos outros? Que importa que a Petrobrás se proponha exaurir mais de metade das reservas petrolíferas da Bacia e para isso tenha de perfurar a Margem Equatorial a mais de sete mil metros, montando no mar e em terra estaleiros capazes de extrair e processar 700 mil barris diários de petróleo? Que importa que aldeias, vilas e cidades de todo o Estado de Macapá sejam arrastadas para a hiperindustrialização e os seus povos escravizados nas usinas que serão disseminados por seis mil quilómetros quadrados de Amazónia?
Bem sei, os cifrões falam mais alto. Se a prospeção correr de feição à Petrobrás e a exploração avançar como está previsto, o Estado brasileiro terá o PIB engordado em 100 mil milhões de dólares e arrecadará 50 mil milhões em impostos e ‘royalties’ – isto sem fazer contas às comissões e gentilezas que ajudarão a “olear” o processo na secretaria. Compreende-se, assim, que Lula da Silva, confrontado com as críticas, tenha respondido com um axioma filosófico: “Se eu acabo com o petróleo, vou utilizar o quê?”. Não está mal, vindo do “líder da agenda climática”.
¿Para que serve, então, a Cimeira do Clima e a COP30 que se segue?
Antes de mais, serve para aumentar a pegada carbónica, atendendo a que falamos de 143 delegações idas de todo o mundo por via aérea.
Serve, depois, para o já tradicional salamaleque climático, bacalhauzadas para as câmaras e frases idiotas. António Costa e Ursula Von der Leyen esperam “um grande sucesso” deste “encontro crucial”. Keir Starmer fala de “ocasião histórica”. Emmanuel Macron abraça “a floresta tropical” na pessoa de Lula. António Guterres, derretido em lágrimas, vislumbra o “ponto de viragem de que a humanidade tanto precisa”. Até Luís Montenegro, que não resiste a uma máxima de meia tigela, espera que da COP30 saia “um pacote ambicioso”, “um acordo robusto” e “uma arquitetura global coerente”. Está bem, abelha.
É claro que da Cimeira do Clima e da COP30 nada sairá – a não ser meia dúzia de larachas de bom tom. E os ilustres participantes regressarão a casa de Ego consolado, cruzando e poluindo os ares como anjinhos distraídos.
Mais do que as presenças na Cimeira, contam as ausências: a China, os Estados Unidos e a Índia, que são os principais poluidores do planeta, nem sequer se dignaram aparecer em Belém do Pará. Está tudo dito.