Esta semana assinala-se o Dia Mundial da Televisão (21 de novembro) proclamado pela ONU em 1996 para refletir sobre o...
Esta semana assinala-se o Dia Mundial da Televisão (21 de novembro) proclamado pela ONU em 1996 para refletir sobre o papel central da televisão na comunicação e na globalização.
Será por isso oportuno refletir sobre a crise de credibilidade e de identidade que atravessam os media audiovisuais tradicionais nas democracias ocidentais.
Assistimos agora estupefactos ao abalo sísmico na BBC, que constituiu durante décadas a referência universal de rigor e credibilidade.
De facto, quando uma das mais importantes e simbólicas instituições britânicas é desmascarada a falsificar um discurso político de um chefe de estado, e uma jornalista que confirma um caso de perseguição e de condicionamento após ter corrigido em directo um teleponto que noticiava que “pessoas” que tinham engravidado, narrando em vez disso que as mulheres que tinham engravidado (o que a transformou aos olhos das chefias em adversária da comunidade trans) é fácil concluir-se que a BBC se tornou num instrumento anti-liberal e anti-verdade.
O que nem as subsequentes demissões das chefias da BBC resolveram, pois a responsabilidade (até mesmo a cumplicidade) radica no próprio colectivo da redação e da equipa editorial, percebendo-se que é o próprio edifício democrático, muito alicerçado no “quarto poder”, que está infiltrado pela doença woke.
Com efeito é inteiramente legítimo que se observe a crise da BBC como a confirmação de um problema mais global, severo e profundo: as redações dos media ocidentais mais influentes deixaram-se capturar por agendas ideológicas, a um ponto tão descarado que compromete irremediavelmente a confiança dos públicos.
Sejamos claros: a televisão pública não pode ser militante.
A sua força (que é igualmente a sua justificação) reside na neutralidade institucional, na sobriedade, na representação plural das vozes e na abertura do debate democrático. Por isso quando os cidadãos passam a desconfiar do enquadramento editorial — seja por excesso de zelo político, seja por activismo interno — o serviço público perde o seu propósito.
E Portugal não está imune a esta deriva.
A RTP, enquanto operador financiado por todos, tem uma responsabilidade acrescida: evitar que a perceção de enviesamento se consolide em desconfiança estrutural.
Sem ser preciso recuar ao tenebroso tempo dos governos Sócrates, e da sua tentativa de captura do Estado de Direito, basta confirmar, nos últimos anos, vários episódios de controvérsia na gestão editorial, inúmeras e justificadas críticas de falta de pluralismo, e a evidência de novas e impostas invisibilidades em substituição das antigas e outrora persistentes.
Por isso, hoje, mais do que nunca, a RTP necessita de reforçar padrões de transparência, escrutínio e rigor.
A televisão pública deve ser um espaço de confiança, e não de disputa ideológica.
O caso da BBC serve de aviso: reputações construídas ao longo de gerações podem ruir num instante.
Não acrescentemos por isso a outros problemas existentes de natureza estrutural, criados em função da evolução tecnológica e de novas necessidades dos púbicos, mais problemas conjunturais gerados pelos ativismos e pelas militâncias.
Porque sem credibilidade e rigor nem os britânicos têm de sustentar a BBC nem nós teremos de pagar a RTP.