O Bloco de Esquerda quis comer o PCP e acabaram ambos com fome. O Livre quer comer uma fatia do...
O Bloco de Esquerda quis comer o PCP e acabaram ambos com fome. O Livre quer comer uma fatia do PS e o que resta do Bloco de Esquerda mas arrisca-se a uma paragem de digestão. O PCP voltou a ter um pouco de apetite e agora também quer comer o PAN, cujos destroços são ainda disputados pela IL. Esta quis comer as papas na cabeça do PSD e do PS e acabou a roer um osso.
É um problema de mercado.
Portugal, país pequenino de 11 milhões de residentes, 9 milhões de eleitores inscritos e 6 milhões de votantes efetivos, não chega para matar tanta fome. Na política portuguesa há lojas a mais e clientes a menos.
Seis milhões de votos é escassa freguesia para as bocas insaciáveis de 230 deputados: cada um representa apenas 26.000 fregueses votantes. Nas eleições locais o cenário é ainda mais pobre, com os mesmos 6 milhões a elegerem 30.000 autarcas (e cada eleito a representar uns míseros 200 votos). A velha expressão “sete cães a um osso” tem de ser urgentemente corrigida. São sete vezes sete.
Nos países grandes e ricos é outra loiça. A Alemanha, por exemplo, com 60 milhões de eleitores ativos, elege 630 deputados – o que dá uma média de 95.000 fregueses por deputado (quase quatro vezes mais do que em Portugal). Com uma clientela destas, sim, o negócio já é viável.
Se é verdade que a crise do comércio eleitoral toca a todos, não é menos verdade que, neste momento em que as ondas da direita cavalgam os mares da política, é a esquerda a mais afetada. Nas últimas legislativas, os cinco partidos assumidamente de esquerda recolheram por junto 2.020.860 votos: 19% dos fregueses eleitores. Com números destes, é natural que algumas das lojas em declínio acabem por ter de correr os taipais ou – cá está – deixar-se comer pela concorrência.
Dizem-me amigos economistas que a oferta nunca deve exceder a procura. Num mercado político tão exíguo como o nosso, este axioma aplica-se a dobrar. E explica por que razão os pequeninos andam a comer-se uns aos outros – e ainda por cima não deixam nada.
Organizem-se!