A área palaciana de Mafra antes vazia e silenciosa ganha um “futuro sonoro” a partir de sábado, com a abertura do Museu da Música, onde instrumentos contrastantes dialogam, e os visitantes tocam em peças que devolvem voz ao palácio.
O Museu Nacional da Música, que durante quase três décadas ocupou um espaço na estação de metro do Alto dos Moinhos, em Lisboa, mudou-se para a área palaciana do Real Edifício de Mafra, utilizada pela Escola das Armas durante o século XX. Este sábado, o Museu abre portas ao público.
A entrada faz-se por um corredor frio e austero, de grandes abóbadas, impregnado de cheiro a tinta e madeira, que dá acesso ao espaço museológico, composto por 15 salas de exposição, dispersas por dois mil metros quadrados, onde grandes vitrinas de vidro guardam centenas de objetos organizados de forma a fazer daquela uma “coleção viva”.
“Nós vamos ter em exposição cerca de 500 objetos, não apenas instrumentos musicais, mas também ferramentas de construção de instrumentos musicais, temos vários quadros, iconografia variada, partituras, fonogramas, que oferecem ao visitante esta viagem pela música ao longo dos séculos e das regiões”, contou o diretor do museu, Edward Ayres d’Abreu, numa visita guiada aos bastidores da montagem.
O museu abarca ainda uma outra área maior, a rondar os sete mil metros quadrados, que guardará as reservas e disponibilizará espaços comuns, como cafetaria e loja.
Marcando a diferença para aquilo que era anteriormente o museu, esta exposição está organizada “não em função do aspeto tecnológico do instrumento, mas sim em função dos usos que esses instrumentos conheceram em alguns contextos privilegiados”.
Quem visita a exposição percebe a preocupação da curadoria de pôr em diálogo instrumentos aparentemente contrastantes, como peças clássicas ao lado de um autorretrato do ex-rapper Allen Halloween, exemplares de reco-reco junto a apitos de Barcelos, instrumentos do século XII ao lado de outros do século XXI, instrumentos portugueses ao lado de instrumentos chineses, africanos e de outros países europeus.
O renascido Museu da Música conta com peças cedidas pelo Museu do Azulejo, pelo Museu Nacional de Soares dos Reis, Museu dos Biscainhos, Museu da Música Mecânica, Museu de Arte Contemporânea e colecionadores privados.
Entre as centenas de peças expostas, alguma mereceram uma atenção especial do diretor do museu durante a visita, como é o caso de um violoncelo Stradivarius de D. Luis, um Regal, que é “uma joia” do século XVI, cedido pela Academia de Ciências de Lisboa e cuja origem é desconhecida, um pianoforte de mesa que é o mais antigo da Península Ibérica, duas pandeiretas pintadas por D. Carlos ou um cravo de Luis XVI.
