Afonso Camões renunciou ao cargo de mandatário distrital da candidatura presidencial de Gouveia e Melo, em Castelo Branco, decisão anunciada depois do Correio da Manhã ter divulgado uma peça que recuperava escutas telefónicas antigas envolvendo o ex-diretor do JN e o antigo primeiro-ministro socialista.

A notícia retomava conversas de há mais de uma década relativas à sua nomeação para cargos de direção no grupo Global Media, apresentando-as como indício de proximidade entre a candidatura do antigo chefe da Armada a Belém e figuras próximas de Sócrates. O tema gerou forte repercussão mediática e política, levando Camões a afastar-se para não criar constrangimentos adicionais.
Num comunicado, o jornalista lamentou o que descreveu como o uso de “uma ilegítima escuta telefónica com mais de 10 anos”, acusando um cronista e um jornal de se dedicarem ao que chamou de “jornalismo pelo buraco da fechadura”. Recordou ainda o reconhecimento profissional que recebeu recentemente e deixou uma garantia: “A mim não me atingem.”
Camões acusou os autores da peça de procurarem interferir na corrida presidencial. “Querem prejudicar a candidatura do Senhor Almirante em favor dos seus candidatos bem identificados”, escreveu, acrescentando que um deles teria sido “criado e sustentado pela estação de televisão do jornal que faz eco da injúria”.
O agora ex-mandatário usou palavras duras para qualificar o que considera ser uma tentativa de condicionamento político: “São gente menor, daqueles que Filipe II de Espanha (…) dizia: ‘Sofrem mais com a ventura alheia do que com a dor própria’, patologia que na minha terra é conhecida por ‘dor de corno’.”

Sublinhando que não permitirá que o seu nome cause embaraço ao candidato que apoia, Camões anunciou a saída imediata das funções que exercia: “Porque não admito que a invocação do meu nome ou meu incondicional apoio (…) sirvam de pretexto para lhe embaraçar o caminho, declaro (…) a renúncia à qualidade de Mandatário Distrital.”