Os títulos emitidos por parte do “Império Altice”, caíram a pique depois do bilionário Patrick Drahi ter deslocado a maior parte dos ativos do grupo para fora do alcance dos credores.
O movimento, anunciado na noite de sexta-feira, transferiu os ativos portugueses e dominicanos da Altice International de um conjunto de garantias dos credores (ou seja, de ativos a que os credores podem recorrer se a dívida não for paga) e designou-os como subsidiárias “irrestritas”.
Esses ativos (Altice Portugal SA, da qual Ana Figueiredo é a CEO, e Altice Caribbean Sarl) representam cerca de 80% dos lucros da Altice International. Até à semana passada, tinham sido penhorados como garantia a credores que detinham mais de 8 mil milhões de obrigações do grupo.
Um investidor de crédito, ouvido pelo Financial Times, considerou a manobra “super agressiva” por ter tirado “5 mil milhões de valor a credores”.
Drahi tem estado em conflito com os credores nos últimos anos, uma vez que as taxas de juro aumentaram e que os seus créditos se venceram por renegociação.
A transação de sexta-feira seguiu a decisão da Altice USA de processar judicialmente credores que detêm a maior parte de sua dívida de 26 mil milhões de dólares acusando-os de “conluio na tentativa de forçar a empresa à falência”.
A administração da Altice France tinha enfurecido os detentores de títulos no ano passado ao aumentar a transferência agressiva de ativos deles (num movimento semelhante à transação de sexta-feira da Altice International).

No entanto, Drahi acabou por fechar um acordo amigável de reestruturação de 24 mil milhões de euros com os credores da sua empresa francesa em fevereiro conforme o 24Horas noticiou em agosto.
No entanto, na altura, alguns analistas e investidores acreditavam que os detentores de obrigações corriam maior risco de extração de activos na Altice International do que na Altice France, porque a lei francesa impedia Drahi de tomar as medidas mais agressivas nos negócios nacionais.
O Financial Times noticia ainda que “além de afastar os ativos dos credores existentes, a Altice Portugal já tinha levantado 750 milhões de novas dívidas através de ‘uma operação de financiamento privado’ para pagar os futuros passivos da Altice International, bem como para fins gerais de capital” e avança que a Altice International “poderá levantar mais 2 mil milhões de dívidas na Altice Portugal para acompanhar a operação”.
Uma vez que os ativos transferidos agora para fora do alcance dos credores já não são regidos pelos contratos de crédito existentes da Altice International, também podem ser vendidos ou utilizados para pagar dividendos sem a necessidade de autorização dos credores.
A notícia do Financial Times conclui que Drahi, que está a trabalhar na potencial venda da operação francesa da Altice “deverá reiniciar o processo para encontrar um comprador para a Altice Portugal no devido tempo”.