A Grande Lisboa é a única região nacional acima da média da União Europeia (UE) (100%) em termos de produto interno bruto (PIB) ‘per capita’ expresso em paridades de poder de compra, ficando nos 128,9%.
Segundo as Contas Nacionais do Instituto Nacional de Estatística (INE), divulgadas esta quarta-feira, as restantes regiões, exceto o Alentejo, que se manteve nos 77,1%, aproximaram-se da média da UE: o Algarve alcançou 89,2%, a Madeira 88,3%, dos Açores 72,5%, o Centro 70,7% e o Norte 70,8%.
“Apesar de também convergirem, o Oeste e Vale do Tejo (64,6%) e a Península de Setúbal (55,4%) continuam a apresentar os níveis de PIB ‘per capita’ mais baixos face à média europeia”, pode ler-se no documento do INE.
Estes resultados têm uma interpretação positiva e negativa. Um PIB per capita elevado em Lisboa (128,9% da média da UE) atrai investimento e turismo, o que empurra os preços da habitação e serviços para níveis europeus. No entanto, os salários médios da população não acompanham essa subida na mesma proporção.
Sob o ponto de vista do risco de pobreza, na Grande Lisboa, o limiar de pobreza é mais alto devido ao custo de vida; quem ganha até cerca de 745 euros líquidos nesta região é considerado tecnicamente abaixo do limiar de pobreza, um valor superior à média nacional.
E há ainda a ter em conta , o facto de ao estar acima de 100% da média da UE, a região de Lisboa deixa de ser considerada uma “região em transição” ou “menos desenvolvida”, o que reduz significativamente o acesso a certos apoios e subsídios da União Europeia destinados à coesão regional.
Por outro lado, há aspetos positivos a ter em consideração. O facto de este indicador mostrar que Lisboa é o motor económico de Portugal, que consegue competir diretamente com as grandes capitais europeias em termos de produtividade e inovação.
O indicador é “bom” para a estatística do país, pois mostra que Portugal tem uma região capaz de gerar muita riqueza. Contudo, para a grande maioria dos habitantes, gera uma “ilusão de riqueza”: a cidade produz muito dinheiro (PIB), mas esse valor fica concentrado em empresas e capitais estrangeiros, enquanto o residente comum enfrenta rendas e custos “europeus” com uma carteira que ainda é, em muitos casos, “portuguesa.
Podemos dizer com isto que Portugal é um país de duas velocidades: uma na grande Lisboa que vive acima dos padrões europeus de riqueza, enquanto o resto do país, apesar de estar a melhorar e a “apanhar” o ritmo europeu, ainda vive significativamente abaixo dessa média.