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Nos Estados Unidos e no Reino Unido há aulas para ensinar a abrir conta no banco ou fazer as tarefas domésticas. Por cá, vários fatores levam os jovens a protelar a entrada na vida adulta, cada vez mais complicada para eles. Ainda assim, reivindicam, logo na infância e adolescência, certos direitos de “adulto”.

A geração que agora procura entrar na idade adulta está limitada. “A ideia de jovem existe desde o momento em que começa a haver um segmento demográfico que é obrigado a permanecer na escola e não entra no mercado de trabalho tão cedo como era costume entrar”, começa por explicar o sociólogo e vice-presidente do Observatório Permanente da Juventude, Vítor Sérgio Ferreira. “Essa etapa que era considerada de preparação para a vida adulta tem vindo a dilatar-se no tempo”.

Por isso, Vítor César Ferreira é da opinião de que não se devem culpar estes jovens adultos, que não são autónomos, pela sua condição. “Hoje em dia a cultura parental é muito diferente da cultura parental que eu recebi”, observa o sociólogo de 55 anos, filho da chamada Geração X. Ainda assim faz uma ressalva: nem todos os Z (nascidos entre 1997 e 2000) têm as mesmas expectativas. “Estamos a falar de um fenómeno circunscrito às classes médias e médias altas. Nos bairros sociais vamos encontrar jovens que sentem a mesma ansiedade que a minha geração sentiu para serem autónomos”.

TRABALHO E HABITAÇÃO ATRASAM PROCESSO

Para ser autónomo é preciso recursos. “Eu tenho 55 anos e vivi essa ansiedade de me emancipar porque a minha geração estava convencida de que ia conseguir fazer isso se tivesse determinados recursos. Isso vai acontecendo cada vez menos”, avisa o cientista social. “Um dos recursos que os nossos pais nos ensinaram era de que se fossemos para a universidade podíamos ter um emprego melhor e um melhor salário”.

Uma realidade que já não está atualizada. “O facto é que temos uma população juvenil casa vez mais qualificada, mas o mercado de trabalho está cada vez mais afunilado. Por mais planeamento que os jovens tenham é muito difícil ter os recursos que a minha geração teve. Os projetos de emancipação são mais difíceis do que há uns anos e a questão da habitação é óbvia. Além disso também tem a ver com as questões do trabalho e do salário não crescem ao mesmo ritmo sobretudo para as gerações mais jovens.”

Ao terminarem os estudos – muitas vezes universitários – os novos adultos tentam a sua sorte no mundo do trabalho. “Temos cada vez mais contratos flexíveis e saltitantes. É muito mais fácil ao empregador dizer que o jovem tem pouca experiência. Isso culmina numa espiral de precaridade com baixos salários”.

A falta de acesso à habitação acaba por ser, de certa forma, uma consequência disto. “O acesso à habitação também se prende com o mercado de trabalho. Além disso, a saída de casa dos pais tem sido bastante mais dificultada, porque a realidade do mercado habitacional é a que sabemos. Encontramos este fenómeno não só em Portugal, mas à escala mundial, com diferentes intensidades”.

CONTROLADOS PELOS PAIS

Se por um lado os jovens adultos querem ganhar autonomia, por outro a sua condição leva a uma infantilização. “No tempo tem-se vindo a adiar uma série de marcadores que são sinais de transição para a idade adulta. Estamos a falar do acesso à cidadania – se bem que a ideia do voto aos 16 anos está em cima da mesa e essa já é a idade de responsabilização judicial – mas também a outros fatores como a saída de casa dos pais, a constituição de uma família própria e ter filhos. Ter um filho é o marcador que acaba por ter maior grau de reconhecimento da condição de adulto”.

Ao permanecerem até mais tarde no ninho paterno os jovens acabam por ser alvo de um maior controlo e manipulação que leva a que sejam vistos como crianças. “O valor do filho ou da filha, no pós-25 de Abril, ganhou um valor afetivo e simbólico que não tinha antes”, avisa Vítor Sérgio Ferreira. “Há muitas tarefas que eram do estudante e do jovem, que eram autónomas, e que os pais têm vindo a substituir”. E dá um exemplo concreto: “Há pais, sobretudo das classes médias e médias-altas, que muitas vezes tiveram acesso ao ensino superior e querem que os filhos também tenham. O filho é mais protegido deste ponto de vista”. Há casos caricatos de pais que se querem imiscuir em todos os assuntos dos filhos: “Durante as matrículas na escola o acompanhamento, muitas vezes intrusivo, do familiar na vida escolar do estudante acontece. Neste momento há tentativas disto nas próprias faculdades”.

Os resultados, para os universitários, são “autênticas reuniões familiares” em cerimónias com a Queima das Fitas ou até pais a telefonar para as universidades. “Os pais acompanham os filhos não só nas matrículas, mas também telefonam. Até já se recebem emails a reclamar da nota do filho ou da filha. Estamos a tratar com maiores de idades, isto até é ilegal”, alega o sociólogo que exerce no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.

COISAS DE ADULTOS

Os jovens pressionam os pais para terem direitos de autonomia mais cedo. “Temos, de facto, um prolongamento da condição juvenil, mas, por outro lado, também temos uma antecipação”, afirma Vítor César Ferreira. “A ideia da transição da infância para a idade juvenil, da adolescência, acontece mais cedo. Há determinadas decisões que são cada vez mais reivindicadas pelas crianças e adolescentes mais cedo. Desde já o próprio vestuário, o que querem vestir, que são coisas de expressão de cultura de pares”. Mas há mais: “A própria reivindicação da chave de casa, para poderem entrar e sair à vontade. Por outro lado, temos a infantilização e uma entrada na vida adulta que se faz cada vez mais tarde”.

Enquanto nos Estados Unidos e no Reino Unido vão prosseguindo os cursos e workshops para ensinar os jovens a entrar na idade adulta, cujas matérias vão desde levar a cabo as tarefas domésticas a abrir conta no banco, a Portugal ainda não chegaram esses currículos.

Vítor Sérgio Ferreira não estranha haver esse tipo de aulas nos países anglo-saxónicos e até admite que o mesmo venha a acontecer no nosso. “Não me surpreende a ideia de introduzir no currículo escolar determinado tipo de competências que, para gerações anteriores, ou pura e simplesmente não eram ensinadas ou dependiam do género”. E conta: “Eu, como homem, nunca me foi ensinado a fazer comida, a cama, a passar a ferro. Provavelmente se eu tivesse uma irmã ela seria educada de outra maneira. Eu até dizia: ‘Mãe, criaste um analfabeto doméstico’”. E continua: “Há determinado tipo de competências que, muito facilmente, se querem introduzir na escola. Quando é identificada uma ausência dentro do agregado doméstico tenta-se atribuir à escola”.

Quanto ao que já existe nas escolas, o sociólogo esclarece que nos currículos há a disciplina de Educação Cívica. “Não me admira que outros conteúdos estejam lá, como a literacia financeira. Tanto quanto eu saiba os trabalhos domésticos ainda não. Mas do ponto de vista da cidadania não me surpreende que determinadas escolas queiram introduzir isso. Até porque sabemos que, apesar de tudo, as raparigas continuam a ser mais responsabilizadas por esses trabalhos, pelos pais”.

ACABARAM-SE OS TELEFONEMAS

Ao mesmo tempo, o facto de os jovens Z terem nascido e crescido com as novas tecnologias também os diferencia, em termos de autonomia. “Hoje em dia perde-se alguma coisa quando se volta à idade analógica, como no dia do ‘apagão’”, prossegue o sociólogo. “Se calhar nós, mais velhos, nesse dia sabíamos que havia lá por casa um rádio a pilhas. Eventualmente, se estivermos a falar de jovens em residências universitárias ou a partilhar quartos, ninguém tem um rádio a pilhas porque nunca precisou. Eventualmente, eles nem sabem que existe. Tal como hoje há muitas casas onde não há televisão porque os mais novos estão a deixar de ver televisão”.

A socialização também traz novos desafios. “Atualmente toda a gente tecla e os jovens, provavelmente, teclam mais. Está toda a gente no Instagram ou no WhatsApp. Os jovens não fazem chamadas e, para as fazer, antes disso mandam mensagem. Isto pode comprometer a interação direta com os outros, que se torna mais difícil”, conclui o investigador social.

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