O fenómeno das relações digitais ganhou uma nova dimensão em Portugal: quase 20% dos adultos já admitiram ter tido conversas românticas com inteligência artificial (IA).
Este dado, revelado recentemente, reflete uma tendência global em que a tecnologia assume um papel cada vez mais central nas dinâmicas emocionais e sociais dos indivíduos.
A ascensão de aplicações e plataformas baseadas em IA, como chatbots e avatares virtuais, tem permitido aos utilizadores criar laços afetivos com entidades digitais, personalizando o comportamento e as respostas dos seus “parceiros” virtuais.
Para muitos, estas interações oferecem um espaço seguro para explorar emoções, sem o receio do julgamento humano, e podem até funcionar como um apoio emocional em momentos de solidão ou ansiedade.
“A IA pode ser uma ferramenta positiva para a saúde mental, desde que utilizada com consciência”, afirma a psicóloga Marta Rodrigues, especialista em relações digitais.
No entanto, esta nova forma de relacionamento não está isenta de riscos. Especialistas alertam para a possibilidade de dependência emocional e para a dificuldade em distinguir entre interações autênticas e respostas programadas.
A antropomorfização da IA — atribuir-lhe características humanas — pode intensificar o envolvimento emocional, levando alguns utilizadores a confundir fantasia com realidade.
O debate ético também se intensifica: questões como a privacidade dos dados, o consentimento e o impacto destas relações nas normas sociais tradicionais estão no centro das preocupações.
O futuro das relações humanas poderá passar, cada vez mais, pelo ecrã — e pela inteligência artificial. Resta saber até que ponto estamos preparados para lidar com as consequências desta transformação.