A OpenAI deu um passo estratégico no comércio digital com o lançamento do “Instant Checkout”, uma funcionalidade que permite aos utilizadores do ChatGPT realizar compras sem sair da aplicação. O sistema já está em funcionamento nos Estados Unidos, com integração inicial na plataforma Etsy, e permite que os clientes finalizem a compra dentro da própria conversa, utilizando métodos como Apple Pay, Google Pay, Stripe ou cartão de crédito.
A tecnologia assenta no chamado “Agentic Commerce Protocol”, desenvolvido em parceria com a Stripe e disponibilizado em código aberto, de forma a permitir que comerciantes e programadores em todo o mundo possam integrar este modelo nas suas lojas e serviços. A OpenAI pretende assim criar um novo ecossistema de compras assistidas por inteligência artificial, em que o consumidor descobre, escolhe e paga o produto sem sair do diálogo com o agente digital.
Este movimento aproxima a OpenAI de empresas como Google e Amazon, que até agora dominaram o acesso aos consumidores através dos motores de busca e dos grandes marketplaces. Se esta tendência ganhar força, o poder de intermediação poderá deslocar-se para dentro das plataformas de inteligência artificial, que passam a ter capacidade para influenciar que produtos são sugeridos e em que condições são vendidos. A Google já reagiu e desenvolveu o seu próprio protocolo de pagamentos assistidos por IA, o que mostra que está em curso uma corrida global pelo controlo deste novo modelo de comércio.
Para os consumidores e empresas europeias, incluindo em Portugal, a evolução pode ter várias implicações. Por um lado, abre oportunidades para pequenos e médios comerciantes chegarem mais facilmente a novos públicos, sem depender tanto da visibilidade em motores de busca ou das comissões elevadas dos grandes marketplaces. Por outro, levanta desafios regulatórios e de confiança: a União Europeia tem regras rigorosas em matéria de proteção de dados, concorrência e transparência no comércio digital, e será necessário garantir que estas novas interações cumprem essas normas.
Em termos práticos, o impacto para o público português dependerá de duas variáveis: a velocidade com que a OpenAI expandirá esta funcionalidade para a Europa e a forma como os consumidores europeus irão adotar compras realizadas dentro de uma conversa com uma IA. Se as garantias de segurança e privacidade forem asseguradas, este modelo pode simplificar a experiência de compra online e reduzir a dependência de plataformas dominantes como a Amazon.
O que está em causa, no fundo, é uma mudança estrutural no comércio eletrónico. Em vez de pesquisarmos um produto num motor de busca ou num marketplace, poderemos em breve perguntar diretamente a uma inteligência artificial o que comprar e concluir a transação no mesmo instante. Para os consumidores portugueses, isso pode significar maior conveniência; para os comerciantes nacionais, uma nova forma de chegar a clientes dentro e fora de Portugal.