O trágico acidente do elevador da Glória, que levou à morte de 16 pessoas, no dia 3 de setembro, continua a dar que falar. Ao contrário do que diz a Câmara Municipal de Lisboa (CML) e a administração da Carris, houve denúncias de trabalhadores sobre a falta de condições e manutenção.
São ex-funcionários, sindicatos e a Comissão de trabalhadores que fazem as acusações. “Os guarda-freios, muitas vezes, queixavam-se de trabalhar aqui sem condições, e é verdade. Eles sabiam como é que era, qual era o tipo de assistência que era prestada”, denuncia Virgílio Guerreiro, antigo trabalhador, ao Correio da Manhã (CM).
Ao mesmo jornal, o ex-funcionário da Carris afirma que o “que aconteceu neste elevador não aconteceu noutros porque não calhou”, culpando a “falta de manutenção” e “falta de atenção” pelo incidente, contrariando a versão do presidente do Conselho de Administração da Carris, Pedro Bogas, que referiu que “nunca houve uma crítica geral à manutenção dos nossos ascensores.
Essa garantia dada por Pedro Bogas é também contrariada por documentos da Comissão de Trabalhadores a que o CM teve acesso, visto que foram enviados vários alertas, entre junho de 2023 e janeiro de 2024, alegando que os “os prestadores de serviços que fazem a manutenção parecem não estar a fazer devidamente o seu trabalho”, que “tem havido problemas com os compressores”, que “a manutenção tem de ser mais proativa”, que “continua a existir quem trabalhe em condições difíceis com receio de represálias”, que “muitas questões de manutenção afetam o material circulante e que “a inação contínua do Conselho de Administração não só perpetuará os problemas existentes, mas também será vista como uma negligência”.
Também entre julho e setembro de 2024, a Comissão de Trabalhadores acusava a Carris e a CML, liderada por Carlos Moedas, de “preferir medidas paliativas em vez de abordarem os problemas de frente”.
Apesar de todos estes avisos, Pedro Bogas, na conferência de imprensa após o incidente, disse: “Não me recordo de ter discutido qualquer tema relativamente aos ascensores, mas todas as matérias que são discutidas são imediatamente reportadas à manutenção.”