João Gonçalves, adido cultural em Brasília desde o início deste ano, denunciou ontem publicamente, através das redes sociais, o estranho afastamento de que foi alvo pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), apenas 8 meses após o ministro Paulo Rangel o ter nomeado para a capital brasileira.
Num post publicado na sua página no Facebook, João Gonçalves, que se encontrava de baixa médica em Lisboa desde março passado, conta que foi alertado por voz amiga que o MNE estaria a preparar-se para colocá-lo sob procedimento com vista ao seu afastamento, sem que disso lhe tivesse sido dado conhecimento: “(…) supostamente fui notificado para a audiência prévia legal por correio eletrónico que não recebi, logo, permanecia na ignorância do procedimento e do seu objeto”, conta, ao mesmo tempo que revela ter sido confidenciado que Paulo Rangel se preparava para, sem lhe dar cavaco, exonera-lo com base nesse mesmo procedimento.
Na referida publicação, que conta até agora com cerca de 350 ‘likes’ e mais de 20 partilhas, Gonçalves, que acumulava até ontem o lugar de adido cultural em Brasília com a presidência do Instituto Camões naquela capital, não esconde igualmente a sua desilusão relativamente à “cadeia hierárquica” do Palácio das Necessidades. Numa clara alusão ao secretário-geral do MNE, embaixador Francisco Ribeiro Teles, mas também ao próprio ministro, Gonçalves confessa ter-lhe custado que “pessoas que estimo e conheço não tivessem arranjado um segundo para me falar”, pondo-o ao corrente de algo de que ele seria “o primeiro interessado”, ainda por cima quando, segundo ele, sabiam “formal e legalmente” da sua situação a nível de saúde.
Ao tomar conhecimento de toda esta situação, que ele classifica de “conspiração do silêncio”, e do desenlace que se avizinhava, João Gonçalves tomou então a decisão de, através de uma mensagem dirigida ao ministro dos Negócios Estrangeiros, apresentar a sua demissão do cargo com efeitos imediatos.
O 24Horas sabe que João Gonçalves tinha sido indicado no ano passado pela antiga ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, para ocupar o lugar de adido cultural em Paris, sendo que, no entanto, ao arrepio da vontade da então sua colega de governo, Paulo Rangel tinha ‘empatado’ a nomeação e, para o lugar para o qual estava indicado Gonçalves, nomeou, por suposta indicação do próprio primeiro-ministro, Jorge Barreto Xavier, antigo secretário de Estado da Cultura no governo de Pedro Passos Coelho.
Entretanto, nalguns meios, há quem relacione o comportamento que a referida “cadeia hierárquica” teve neste processo, com o facto de, em abril deste ano, João Gonçalves ter mantido uma polémica pública com o comentador Gonçalo Ribeiro Teles, por sinal filho do atual secretário-geral do MNE. Na altura, como contaram ao 24Horas, Gonçalves teria recebido um aviso sobre os seus escritos: “Veja lá o que escreve, lembre-se que mesmo longe, você está sempre sob observação.”