É de 24 mil milhões de euros o valor da dívida líquida consolidada da Altice França mas à escala mundial o montante pode ultrapassar os 60 mil milhões.
No dia 4 de agosto a justiça francesa aprovou o plano de reestruturação da Altice France, que passa pelo acordo de dívida com os principais credores, que lhes vai permitir ficar com 45% do capital da empresa.
O Tribunal de Atividades Económicas de Paris, aprovou o acordo assinado em fevereiro entre Patrick Drahi e os credores, permitindo-lhe reduzir a dívida para 15,5 mil milhões de euros. Se não houver recurso da decisão ela deverá implicar a entrada de dois novos administradores independentes que quebrarão a hegemonia de um Conselho de Administração dominado pelos “fiéis” do milionário Patrick Drahi
Os sindicatos mantém a desconfiança em relação ao plano sobretudo porque não foram seguidas as recomendações do Ministério Público de excluir do acordo três empresas filiais, uma delas a SFR ( Société Française du Radiotéléphone) que conta com mais de 22 milhões de clientes. Ora os representantes dos trabalhadores argumentam que sociedades rentáveis e financeiramente estáveis como a SFR (o ativo mais apetecível do grupo) são envolvidas num “esquema de endividamento de onde não retirarão qualquer benefício”. A absorção da SFR pelos seus concorrentes seria bem vista por estes que obteriam uma consolidação do mercado de telecomunicações francês ao passar de quatro para três “players”. Um dos cenários futuros resultantes da decisão judicial pode passar pela venda “retalhada” dos ativos da Altice France a iniciar-se, justamente, pela SFR, cobiçada por Bouygues, Free e Orange, os seus concorrentes.
Este eventual negócio que pode avaliar a SFR em até cerca de 30 mil milhões de euros, seria um balão de oxigénio para as contas da Altice France.
Drahi , que pode até ter a intenção de sair do mercado francês, tem vindo a explorar diferentes opções para o futuro do grupo internacional, que, através da Altice International, detém a Altice Portugal, dona da MEO.
A venda da Altice Portugal seria uma outra forma de procurar aligeirar a dívida colossal da empresa mãe e, nesse sentido, as recentes notícias de que a dona da MEO está a restruturar o grupo com a eliminação de cinco empresas, um processo de diminuição de recursos humanos que passa pela saída de cerca de 1000 funcionários (entre saídas voluntárias e adesão a um programa de rescisões) e o regresso da possibilidade de alienação do Data Center da Covilhã, podem tornar a filial portuguesa mais atrativa para uma aquisição que esteve quase a ocorrer há um ano e que se frustrou por um desentendimento à volta do valor do negócio.
Em sentido contrário há o autêntico lastro em que se transformou o Altice Labs, o pólo de inovação e tecnologia de Aveiro, que chegou a ser uma espécie de “joia da coroa” da Altice Portugal. A redução progressiva das receitas do Altice Labs que passou de 300 milhões de euros em 2023 para cerca de 200 milhões em 2024 deve prosseguir a refletir-se nas contas do ano em curso. O facto de parte dessas receitas resultar de vendas a outras empresas do grupo adensa a noção de que a existe uma falta de capacidade de aumentar o produto da exportação de equipamentos e de hardware.
Recorde-se que em 2024 o EBITDA (o lucro, antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) do Altice Labs caíu mais de 40% em relação aos números de 2023.Altice: Drahi em “maus lençóis”