A carreira de Sérgio Conceição, de 51 anos, deu várias voltas depois da saída do técnico do FC Porto, em junho do ano passado. A passagem pelo AC Milan ambicionava ser promissora, com a conquista da Supertaça de Itália oito dias depois de assinar pelo clube, mas revelou-se curta. Assim, o treinador rumou para a Arábia, onde treina o Al Ittihad. No entanto, o Sérgio Conceição deu uma entrevista ao La Gazzetta dello Sport, onde recordou a conquista, para assinalar a final da Supertaça italiana, que vai ser disputada, esta segunda-feira, dia 22, entre Nápoles e Bolonha.
“Lembro-me de que foram dias de trabalho intenso, focámo-nos na análise de vídeo, na motivação e em discursos para entrar diretamente na cabeça dos jogadores. Vencemos a Juventus do meu filho Francisco e depois o Inter, com reviravolta. Chorei”, lembra. Sobre as imagens, que se tornaram virais, em que apareceu a fumar um charuto, o técnico português confessou que se tratou de uma promessa: “Os jogadores tinham visto vídeos e pediram-me para fumar um charuto se ganhássemos. Já o tinha feito 11 vezes no FC Porto, ou seja, sempre que conquistámos troféus, e fiz outra vez.”
Apesar de a estadia em Itália ter sido curta, Sérgio Conceição garante que os seis meses no AC Milan foram “positivos”. No entanto, não esconde que houve coisas “de que não gostou”, como a “instabilidade” e a “atmosfera à volta da equipa, que não era boa”. Ainda assim, o ex-treinador portista relembra que tinha os jogadores do seu lado: “Muitos escreveram-me mensagens quando saí. Exigia rigor, padrões, mas também os deixava relaxar quando era tempo de relaxar. Se alguém aparece com um quilo a mais ou chega atrasado, algo desse género, isso não pode ser tolerado. Para mim, no fim, todos os jogadores são iguais.”
Sérgio Conceição falou ainda da sua religião, assumindo que a fé é “uma parte fundamental” na sua vida. O técnico assume-se como um “católico praticante” e relembra que em Milão ia à igreja todos os dias.
“Perdi o meu pai, aos 16 anos, num acidente de mota, perdi a minha mãe, aos 18, depois de uma longa doença, e depois perdi um irmão. Eu era o sétimo de oito. A fé deu-me força e paz de espírito. Quero mostrar aos meus pais que estou aqui e que alcancei todos os meus sonhos. Mas dentro de mim, aqui escondido, existe e vai sempre existir algo negro, como uma sombra”, garantiu. Sérgio Conceição assume que reza pelos pais todos os dias e que nunca será “completamente feliz sem os pais”.

vítima de um acidente de mota

contra uma doença prolongada
Mas a família ajuda a preencher esse vazio e o treinador garante que, apesar de os cinco filhos estarem ligados ao futebol, se fala pouco da modalidade em casa: “A coisa mais importante que lhes peço é que deixem os telemóveis no bolso ao jantar. Já pedia isso no tempo do FC Porto e do AC Milan. O Francisco estreou-se profissionalmente comigo, em Portugal. Em 2020, durante o confinamento, disse-lhe: ‘Se tiveres fome bebe água’, porque estava a ficar um bocadinho gordinho. Fazer a diferença exige sacrifício e uma boa mentalidade.”
O treinador fez ainda uma revelação surpreendente: está a tirar um mestrado em Treino Desportivo: “Não podemos alcançar grandes coisas em águas calmas, precisamos de uma tempestade.”
