A Bairrada está a viver um renascimento vinícola com a valorização do Vinho de Talha, técnica ancestral de fermentação em ânforas de barro que remonta à época romana e medieval. O método, tradicionalmente associado ao Alentejo, é agora resgatado na região do centro de Portugal, oferecendo uma nova dimensão à já reconhecida diversidade e autenticidade bairradina.
O Vinho de Talha distingue-se pela baixa intervenção: ao contrário da barrica de carvalho, o barro permite uma micro-oxigenação lenta, que amacia os taninos sem comprometer a frescura e a mineralidade da casta Baga. Este processo resulta em “vinhos elegantes, complexos e de textura rústica”, frequentemente produzidos em curtimenta, em contacto prolongado com as películas da uva.
Entre os produtores pioneiros deste movimento encontra-se a Adega Malápio, em Aguada de Baixo, Águeda, que recupera a tradição herdada do avô Aristides. Sob a liderança de Romeu Martins, a adega utiliza talhas revestidas apenas com cera de abelha e resina de pinheiro e vinhas medievais centenárias, produzindo vinhos naturais de mínima intervenção e baixo teor de sulfitos.
O impacto do Vinho de Talha estende-se também ao enoturismo. Na Adega Malápio, os visitantes podem conhecer as vinhas históricas, acompanhar todo o processo de vinificação e degustar os vinhos em harmonização com o icónico Leitão Assado à Bairrada. O percurso oferece uma experiência imersiva, ligando história, tradição e natureza, numa verdadeira viagem no tempo.
Este movimento representa um “pilar estratégico para o futuro dos vinhos portugueses”, ao reforçar a identidade da Bairrada, promover práticas sustentáveis e criar novas oportunidades de inovação a partir da tradição. A valorização de castas autóctones e técnicas milenares permite diversificar a produção, reduzir a dependência de estilos internacionais e reforçar a autenticidade do vinho português no mercado global.
O Vinho de Talha não se apresenta como uma alternativa aos espumantes ou aos tintos de barrica da Bairrada, mas como uma expressão complementar, que devolve à região um elo perdido com o passado e reafirma o potencial de inovação enraizado na história.

