O comandante dos Bombeiros Voluntários do Fundão, José Sousa, apresentou a demissão esta sexta-feira, na sequência da detenção de 11 bombeiros suspeitos de crimes de violação e coacção sexual. A decisão foi confirmada ao PÚBLICO pelo próprio, que remeteu esclarecimentos adicionais para um comunicado a divulgar brevemente.

O caso envolve a alegada violação de um jovem bombeiro, ocorrida em Setembro, durante uma prática de “praxe” no quartel. A Polícia Judiciária avançou com as detenções após receber a queixa da vítima, tendo os atos sido, alegadamente, gravados. O jovem, bombeiro de 3.ª classe e anteriormente cadete da corporação, conhecia bem os suspeitos.

Antes da demissão, José Sousa já tinha confirmado que os bombeiros envolvidos foram suspensos preventivamente, na sequência da abertura de um inquérito interno. O agora ex-comandante negou ter tido conhecimento prévio dos factos e adiantou que será realizada uma conferência de imprensa quando houver novos dados disponíveis.

A advogada da vítima, Joana Bento, afirmou ao PÚBLICO que o jovem pretende evitar que o caso afete injustamente a imagem dos restantes bombeiros, sublinhando que “uma árvore não faz a floresta”. Confirmou ainda que o cliente não regressará ao quartel enquanto o processo estiver em curso.

Após o primeiro interrogatório judicial, os 11 bombeiros ficaram em liberdade, mas sujeitos a várias medidas de coação, incluindo a proibição de contactar a vítima e de se aproximarem a menos de 500 metros. Os vídeos que documentam as agressões foram entregues pelo comando dos bombeiros à PJ. Os detidos estão indiciados pelos crimes de violação e coacção sexual, num episódio em que o jovem de 19 anos terá sido coagido a masturbar-se, sob a forma de uma “praxe” mantida em sigilo por um pacto interno.

A população local está revoltada com os factos e muitos exigem que se faça justiça. Na zona não se fala de outro assunto e entre as conversas dá-se conta de que este não foi o primeiro caso de abusos dentro do quartel. Um dos envolvidos, conhecido como Xico Serra, é apontado como reincidente neste tipo de situações. Sendo que o primeiro caso, que terá ocorrido há mais de uma década, terá ficado abafado. A revolta da população é expressa em muitos dos comentários na página oficial da coroporação. “E devem ser todos casados, com uma bela família de fachada”, “Simplesmente vergonhoso”, ou ainda “Como é possível andarem a fazer passar comunicados e nem uma palavra é dirigida à vítma”.