O Conselho de Redação (CR) da RTP arrasou Vítor Gonçalves, diretor de Informação da estação pública de televisão, num comunicado a que o 24Horas teve acesso, por este ter ficado em silêncio após as graves declarações do ministro Fernando Alexandre.
O ministro da Educação, recorde-se, esteve envolvido numa grande polémica depois de ter sido acusado de estigmatizar os alunos mais pobres das residências universitárias. Em entrevista ao ECO, Fernando Alexandre atirou-se à RTP e a Vítor Gonçalves e fez acusações graves pela escolha do “trecho”, que não acha que tenha sido por acaso”: “A direção tem de investigar por que razão a jornalista escolheu aquele trecho. Quem esteve na sessão não ficou com a ideia que a RTP passou. Eu fiz um discurso longo e contextualizei aquilo que estava a dizer… Que tipo de pessoa podia ter dito aquilo que disseram que eu disse? É um ataque cobarde, é um ataque vil, que tipo de pessoa é que pode dizer uma coisa daquelas? Estamos a falar de quê? Infelizmente, tivemos uma televisão pública que esteve ao nível das redes sociais, no seu pior.”
O 24Horas contactou Vítor Gonçalves, diretor de Informação da RTP, para comentar o sucedido, esta segunda-feira, dia 22, mas este recusou-se a prestar quaisquer declarações, preferindo ignorar as acusações do ministro da Educação.
Agora, o Conselho de Redação da RTP começou por apontar o dedo a Fernando Alexandre, pelas suas declarações, em comunicado: “A entrevista concedida pelo Ministro da Educação ao jornal ECO, no passado dia 19 de dezembro, contém afirmações que colocam em causa, de forma grave e injustificada, o bom nome, o profissionalismo, a idoneidade e a ética da nossa Redação. As referências a alegadas ‘agendas camufladas’ e a ‘incompetência’ não são meras críticas: são acusações que atingem diretamente a credibilidade da informação da RTP e os seus profissionais.”
Os jornalistas da estação pública mostraram ainda o seu desagrado pelo silêncio da direção da RTP, liderada por Vítor Gonçalves: “Não podemos permitir que estas suspeições passem sem resposta. A indignação que sentimos não deve ficar circunscrita à Direção – é uma questão que envolve toda a Redação e a própria missão do serviço público. O ‘Telejornal’ é a referência mais antiga de informação televisiva em Portugal, com 66 anos de história, e a RTP, com 68 anos, tem uma responsabilidade acrescida na defesa da sua reputação e dos valores que sustentam a confiança dos cidadãos.”
E o Conselho de Redação faz, por isso, um apelo à direção de Informação: “Tome uma posição pública firme, repudiando as insinuações e reafirmando a independência editorial, o rigor e a ética que norteiam o nosso trabalho. Esclareça os critérios editoriais que sustentaram a peça em causa, garantindo transparência perante a opinião pública. Reforce o compromisso com o serviço público, lembrando que a RTP não serve agendas, mas sim os cidadãos, com informação verificada, plural e responsável.”
O comunicado dos jornalistas da RTP não esquece também o Conselho de Administração, presidido por Nicolau Santos. “Tem igualmente o dever de defender o bom nome da RTP e dos seus profissionais, assegurando que estas acusações não minam a confiança no jornalismo que praticamos.”
No fim, o CR deixa uma mensagem de união: “Este é o momento de união e firmeza. A nossa história e a nossa missão exigem que respondamos com clareza e dignidade.”
Veja o comunicado na íntegra:
