A Câmara Municipal de Lisboa está atrasada, em vários meses, nas inspeções obrigatórias aos elevadores de vários prédios em Lisboa. O 24 Horas foi alertado por um dos moradores das Twin Towers, as torres de 25 andares localizadas junto à Avenida José Malhoa para este facto. “Os elevadores não têm a inspeção em dia. Era para ter sido feita até fevereiro e não foi”, relata o morador bastante preocupado com o tema. “Se houver um acidente, quem se responsabiliza?”, questiona.
Os habitantes foram falando entre si sobre o assunto e o medo está instalado naqueles famosos edifícios da capital, dos mais altos de Portugal. “No outro dia fui passear o meu cãozinho e falei com um vizinho que, além deste problema nas Twin Towers, tem outro prédio, no Campo Pequeno, onde se passa o mesmo. Isto pode ser perigoso”, alerta.
A inspeção foi pedida a tempo e horas, garantem-nos na empresa de gestão de condomínios Lexurben, responsável pela administração das famosas torres. Só que os atrasos nas inspeções são muito frequentes.
Depois de ser descentralizada para as câmaras municipais a responsabilidade desta fiscalização, foi necessário criar concursos públicos para adjudicar estes trabalhos uma vez que os técnicos da CML não são suficientes para darem vazão a tantas fiscalizações. O processo em si é demorado e isso pode justificar os atrasos, mas tal não deveria acontecer a bem da segurança dos munícipes alfacinhas. Orlando Ascensão, engenheiro eletrotécnico especialista nesta matéria e contactado pelo 24 Horas, confirma os motivos. “A câmara também faz inspeções, mas tem poucos inspetores, não tem capacidade para uma cidade como Lisboa. E depois, as empresas vão fazendo as inspeções”. Orlando Ascensão, que também é responsável por uma firma de manutenção de elevadores, garante que os atrasos nas inspeções são na ordem dos seis a oito meses. E esta é uma situação que deixa indignados os habitantes das duas luxuosas torres. “Não queremos estar nesta situação. Pagamos tudo a tempo e horas. Isto para mim é o Moedas a assobiar para o lado”, reforça a primeira moradora com quem falámos.
ATRASOS SÃO CONSTANTES
A funcionária da Luxurben, que prefere não ser identificada, tem testemunho idêntico. “Nós temos alguns elevadores e as inspeções foram pedidas. Recebemos uma comunicação, há sensivelmente duas semanas, de que já haveria empresa escolhida [pela CML para fazer inspeções]. Agora é só agendarem…” Acontece que ‘só’ pode ser muito tempo. “Os prazos nunca são cumpridos. As inspeções nunca são feitas dentro do período que têm de ser feitas. Isso não tem como. Desde que estou aqui a trabalhar, a câmara nunca vai…. Estão atrasadíssimos! E este ano, estão a demorar mais do que o normal que é, vá, seis meses”.
A inspeção camarária aos elevadores das Twin Towers era válida até fevereiro deste ano. A gestão do condomínio fez o pedido para a inspeção, tal como está obrigada a fazer sob pena de multa, cerca de um mês antes do prazo de validade terminar. Até agora, já lá vão oito meses e nada.
O 24 Horas deslocou-se, também, ao prédio do Campo Pequeno que tem o mesmo problema. Neste caso é um edifício antigo com sete andares. Os moradores revelam-se assustados com o prazo caducado da inspeção aos elevadores. “Penso que é uma grande responsabilidade para a câmara e que é muito perigoso”, começa por partilhar uma moradora, que também não quer ser identificada. Aliás, durante o curso desta reportagem só uma pessoa acedeu a ser filmada o que indicia receio ao abordar o tema.
A mesma moradora prossegue: “Há pessoas idosas no prédio, têm de usar o elevador, não podem andar a pé. Mas agora eu vou começar a andar a pé. Não me lembro de nenhum acidente que tenha acontecido com estes elevadores, mas agora tenho mais receio”.
Martim Cruz, 20, mora no segundo andar deste prédio. Não costuma usar o elevador, mas não tem dúvidas: “É perigoso, não vou mentir. Representa o país como é. É um atraso.”
“NÃO PODEMOS FAZER COMPARAÇÕES COM O ELEVADOR DA GLÓRIA”
Já o engenheiro eletrotécnico Orlando Ascensão faz questão de sossegar a população. “Não podemos fazer comparações com o Elevador da Glória porque são coisas totalmente diferente e não são comparáveis”, avisa. “Na Glória temos um cabo que sustenta aquilo tudo. No caso dos elevadores temos três cabos para suportar tudo o que temos lá. Depois, os elevadores têm um sistema de paraquedas, que prende nas guias. Além disso, são vistos todos os meses devido ao contrato de manutenção [obrigatório em todos os prédios]”.
Orlando Ascensão garante que é muito difícil acontecer um acidente com um elevador. “Se reparar, os elevadores são um transporte muito seguro. Fazem milhões e milhões de viagens, de que as pessoas nem se apercebem, e os acidentes são poucos. Estamos quase ao nível dos aviões”, explica. E vai mais além: “Todos os elevadores [novos ou antigos] têm o mesmo sistema de segurança, quer ao nível das portas como do sistema paraquedas. Um elevador é muito difícil cair. Tem três cabos de aço com 10 milímetros, de suspensão.”
O engenheiro, porém, reconhece que há preocupação dos moradores dos prédios com elevadores não inspecionados pela CML. “As pessoas agora estão com medo e falam muito na queda do Elevador da Glória. Mas um funicular não tem nada a ver com um elevador, a única semelhança é que o funicular também sobe de um nível para o outro. Chamam-lhes elevadores, mas não são elevadores. Não é o mesmo tipo de transporte”, conclui Orlando Ascensão.
O 24 Horas questionou a câmara municipal de Lisboa mas não obteve qualquer resposta até ao fecho deste artigo.
