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  • 'Continuamos a ser um país com grandes desigualdades', Manuel Castro Almeida
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Na berma da estrada acumula-se lixo. A poeira invade o ar. A rua é de terra batida. Os serviços municipais não passam por aqui. “A câmara de Almada não recolhe o lixo precisamente para não tornar isto num sítio agradável para as pessoas viverem”, afiança Ivan Coimbra, sociólogo e ativista do Movimento Vida Justa.

O 24Horas entrou em Penajóia que é, segundo o Movimento Vida Justa, o maior bairro de habitação precária na Área Metropolitana de Lisboa. “O bairro cresceu muito desde o ano passado. Creio que terá cerca de mil habitantes”, adianta Ivan Coimbra, que nos acompanha neste bairro do concelho de Almada.

Sabe-se que no ano passado, quando este bairro começou a ser erguido, para aqui vieram cerca de 400 pessoas. Todos os dias eram construídas 20 a 30 barracas. Houve algumas demolições, mas rapidamente pararam. Hoje, diz Ivan Coimbra, o movimento é constante. “Há muita gente que vai para outros sítios e outros que chegam.”

Não há água, eletricidade ou saneamento básico. À noite, o bairro mergulha na escuridão, sem iluminação pública. “Para alguns moradores só há, mesmo, a luz solar”, prossegue Ivan. Outros – não todos – fazem puxadas ilegais.

Serviço de correios também não há. Os carteiros não vão ao bairro e, à entrada, não há caixas de correio improvisadas, como existem, por exemplo, nas aldeias. “As pessoas têm de dar a morada de um familiar ou amigo, para receberem correspondência, ou, então, terem um apartado nos CTT”, explica Ivan Coimbra

O 24Horas entrou no primeiro café, na principal rua do bairro. É um café que também é uma ‘casa’. A sala, com dois balcões e três mesas, serve para os clientes. Mas há um quarto – onde, de porta aberta, o dono se encontrava de cama por doença – e uma casa de banho que é comum à clientela e ao morador.

Bebemos uma água, para aliviar o pó que já se entrava pelas narinas e pela garganta, e metemos conversa para quebrar o gelo e saber mais sobre o que iriamos encontrar dali para a frente. Pedimos para ir à casa de banho. O dono da casa avisa: “Não tem água”. Fomos ver e, de facto, só lá estava um garrafão com água, ao lado da sanita.

Foi também aqui que encontrámos Etelvina, 56 anos, cabo-verdiana robusta e de conversa fácil. Não tem vergonha do sítio onde vive. Apenas tristeza. “Gostava de sair daqui, mas não tenho como fazer”, partilha a funcionária de limpeza.

Todos os dias Etelvina, ou Tina, como gosta de ser chamada, sai de casa às quatro da manhã. Às escuras, atravessa a rua principal do bairro – onde vive – e só quando entra na estrada que passa junto ao bairro consegue ver o caminho. A paragem de autocarro é em frente. Tina demora hora e meia até local de trabalho para fazer um part-time. Não por que queira, mas porque não consegue arranjar melhor. “Só tenho cinco horas de trabalho. Ganho 350 euros, não dá para pagar renda”, conta a mulher.

Tina mora com o filho, que trabalha ocasionalmente, e com um neto pequeno. O dinheiro é curto. “O meu filho também trabalha, às vezes, na obra. Só que ele é servente, ganha pouco também… Neste momento não dá para pagar renda, nem de um quarto, quanto mais de uma casa.”

A cabo-verdiana vai governado a vida e fazendo face às despesas essenciais, como a comida para a família. “Não sei nem como. É um dia de cada vez, tem de andar assim, não dá para ser de outra maneira.”

CENTENAS DE CRIANÇAS MORAM AQUI

Os habitantes de Penajóia são sobretudo jovens, entre os 20 e os 40 anos. “São aqueles que estão na idade em que se pode trabalhar mais”, resume Ivan Coimbra. Há também muitos jovens e crianças às centenas. Pessoas mais velhas, segundo o relato do ativista do Vida Justa, há poucas.

Quem já está legalizado em Portugal consegue aceder a creches e infantários para os mais pequenos. Os mais velhos frequentam as escolas da região. Mesmo em frente ao bairro fica a Escola Básica Rogério Ribeiro, também conhecida como Escola Básica do Monte da Caparica. Por aqui, poderão ser inscritas crianças para o ensino básico ou para o jardim de infância.

Lena, 39 anos, entrança vagarosamente o cabelo da sobrinha, Linda. A menina nasceu com paralisia cerebral e por isso mexe, parcialmente, o braço esquerdo.

A mulher chegou a Portugal há um mês e instalou-se em Penajóia, com a filha de 12, na casa autoconstruída da irmã, do cunhado e da sobrinha. Felizmente, já tem emprego garantido. “Estou à espera da minha prima que tem uma empresa de limpezas e vou trabalhar com ela”, sorri. Mesmo assim, com um parco ordenado e difíceis condições de vida da família que a acolheu, não é previsível que consiga ultrapassar o ciclo de pobreza.

“A minha irmã é doente, faz hemodiálise e não trabalha. O meu cunhado trabalha nas obras, mas o dinheiro é muito pouco”, afirma Lena, sem ilusões.

A filha de 12 anos vai entrar neste ano letivo para a escola. Lena já estará a trabalhar. A irmã toma conta das crianças, apesar das suas dificuldades e de sair várias vezes por semana para os tratamentos de hemodialise. Conseguiu que uma ambulância a viesse buscar ao bairro. Um autêntico luxo no meio de tanta pobreza.

MERCADO PARALELO EM PENAJÓIA

Mesmo com muitos obstáculos, Lena gosta de viver em Penajóia. O pior é o básico que falta. “Aqui é agradável, mas a falta de água e de luz é um problema. Se não fosse isso, o bairro é bom para viver”.

Quando questionada sobre a eletricidade ri-se timidamente. A luz, como em muitas outras casas autoconstruídas, vem de uma puxada. A água é outro assunto. “Compro normalmente…”

“Todos os negócios que existem são replicados no bairro. Há quem arrende quartos ou casas [barracas], como há homens que vêm com os garrafões cheios e vendem água”, explica Ivan Coimbra, ativista do movimento Vida Justa.

Quem quiser ir buscar água só tem um acesso a cerca de um quilómetro da entrada do bairro. “Está água a sair de um tubo para regar horta. É lá que vamos buscar”, revela outra imigrante cabo-verdiana, Maria Gomes Soares, de 61 anos.

Maria não trabalha, mas saiu de Cabo Verde, onde estava sozinha, para viver na companhia de um dos filhos e do neto. “Viver aqui é ‘mareado’ [difícil], sem água, sem luz”, queixa-se esta habitante de Penajóia.  A sexagenária prossegue o seu desabafo. “Moro na barraca, sim. Vida muito cara. Aqui tem trabalho, melhor que em Cabo Verde.”

Apesar de saber que vive em condições precárias admira o que chama de casa. Tem dois quartos, o seu ainda com o chão em cimento, uma casa de banho inacabada, uma cozinha e uma sala. “Não é barraca, é casa.”

Também Maria gosta do ambiente em Penajóia. Afinal de contas um pequeno Cabo Verde numa encosta de Almada, com vista para o rio e a ponte 25 de Abril. “Tudo direito, tudo a comportar direito. Os cabo-verdiano vivem sempre com paz, em harmonia. Gente muito sábia aqui.”

Toma conta do neto e gere o orçamento familiar: um dia de cada vez. Ainda assim, não pensa regressar ao país de origem. “Para ficar pior do que aqui? Eu sou feliz!”

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