“A culpa não pode morrer solteira”, disse Jorge Coelho em março de 2001, justificando a demissão do cargo de ministro do Equipamento Social, na sequência da tragédia de Entre-os-Rios, que culminou com 59 mortos após o colapso da ponte Hintze Ribeiro, que fazia a ligação, sobre o Rio Douro, entre as localidades de Castelo de Paiva e Entre-os-Rios.
Na época o governante do PS, contrariando a vontade do primeiro-ministro António Guterres, cessou funções no Governo, assumindo-se como máximo responsável daquele desastre.
Passados mais de 24 anos Portugal voltou a ser assolado por uma tragédia, envolvendo um equipamento público. Desta feita, o acidente no Elevador da Glória, que terminou com 16 mortos e dezenas de feridos.
Numa altura em que se tentam apurar responsabilidades do acidente do elevador, diversas personalidades e comentadores vieram a público pedir a demissão do presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, relembrando o exemplo de Jorge Coelho.
Mas há quem tenha chamado a atenção para um detalhe. Anselmo Crespo, num espaço de comentário na CNN, considerou que o pedido de demissão de Jorge Coelho foi um ato precipitado, já que se concluiu, mais tarde, que a ponte colapsara devido a problemas de dragagem de areias. Ou seja, uma autorização que era da responsabilidade do Ministério do Ambiente, na altura tutelado por quem viria a ser primeiro-ministro, José Sócrates. “A responsabilidade política não era sequer do ministério que Jorge Coelho tutelava, era do Ministério do Ambiente”, apontou o comentador.