José Manuel Anes, ex-presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT) e atual presidente do Conselho Consultivo dessa instituição, de 81 anos, foi vítima de uma tentativa de homicídio em sua casa, na manhã desta segunda-feira, dia 20, em Lisboa. A brutalidade denuncia um ato tresloucado que, por muito pouco, não se transformou numa verdadeira tragédia.
A rotina já era clara: José Manuel Anes costumava verificar, pelo intercomunicador, se a filha se encontrava num estado sereno, e só abria a porta quando confirmava que ela não estava “alterada”. Contudo, naquela manhã, o cenário fugiu ao habitual. Devido a obras no prédio, na zona da Praça do Chile, a porta principal ficou aberta. Foi por essa brecha que ela conseguiu subir até ao sexto andar e tocar à campainha. José Manuel Anes, à espera de uma encomenda, confundiu o toque com o carteiro e abriu. Nesse momento, ela arremessou a porta com violência, empurrando-o e causando-lhe uma queda que resultou num traumatismo craniano.
O ataque prosseguiu com facadas e arranhões, enquanto ele tentava defender‑se. Em luta violenta, ela feriu o pai no abdómen, nas mãos, nas pernas e até nos olhos, Tal foi a agressividade do ataque. Saiu em seguida da habitação, visivelmente transtornada. A cena não passou despercebida ao dono do restaurante logo abaixo – onde José Manuel Anes tinha reservado o almoço – pois reparou no comportamento alterado dela. Como ele não aparecia e não atendia o telefone, o dono do restaurante contactou Carla Pinheiro, que se dirigiu rapidamente a casa (da qual ela é proprietária e para onde José Manuel Anes se havia mudado enquanto recuperava de uma operação às cataratas). Ao chegar, deparou‑se com ele no chão, exangue.
As equipas médicas intervieram com rapidez: as facadas foram tratadas apesar de uma delas ter atingido o intestino delgado, e a reconstrução de uma das mãos – usada por ele para se proteger – tornou‑se necessária. Mas o que mais preocupa os médicos é o hematoma cerebral: existe um coágulo de alguma dimensão no crânio, cujo risco permanece sob vigilância. Apesar disso, o prognóstico foi considerado promissor: o paciente, consciente, mostrou-se de bom humor dentro da gravidade, e os médicos destacaram os êxitos das operações realizadas.
De recordar que Ana publicou de seguida várias mensagens nas redes sociais onde admite ter atacado o pai de forma tresloucada. Isto no mês em que a APAV divulgou um relatório onde alerta para o aumento da violência contra idosos. Entre janeiro e agosto deste ano, foram registadas cerca de 2.800 crimes, como burla ou furto ou formas de violência, como doméstica ou maus-tratos.