O 24 Horas foi conhecer as instalações, cães e polícias do Grupo Operacional Cinotécnico da PSP. Os cães mostram-se meigos e afáveis, mas são agentes implacáveis nas funções a que estão destinados. Vimos os treinos e testámos o trabalho de três binómios cão-polícia e agente.
O Grupo Operacional Cinotécnico (GOC) da PSP trabalha com cães treinados para encontrar pessoas desaparecidas em florestas ou sob escombros. Usa ainda os animais para controlo da ordem pública, busca de droga, armamento ou explosivos. Uma missão discreta, mas vital. “Todos recebem o mesmo treino básico. No final da formação, introduzimos os odores, como drogas, pedaços de armas, explosivos e corporais, de pessoas vivas, não temos odor de cadáver”, explica o Comissário Bruno Ratinho, do GOC. “De forma prática, o mais importante é que o binómio, ou seja, o cão e o polícia, funcione como uma equipa”, prossegue Ratinho. “O treino não só serve para ensinar tarefas, mas também para estabelecer limites comportamentais e reforçar a relação entre os dois”.
O QUE ELES SÃO CAPAZES DE FAZER
Entre árvores ou ruínas instáveis, cães-polícia e polícias formam uma dupla imbatível. No terreno, o 24 Horas assistiu ao trabalho de três cães. Boneca e Kid têm como especialidade encontrar pessoas vivas. Boneca é uma cadela-polícia, pastor belga malinois, com nove anos de serviço. Kid é um estreante em fase de treino. De raças diferentes, trabalham juntos em exercícios de busca e salvamento. “O Kid foi uma doação. É a primeira vez que trabalho com um cão desta raça, mas está a revelar-se muito promissor”. Kid é um border collie, de três anos. Já Zeus é um idoso que ainda não se reformou e continua a trabalhar na ordem pública.
Desde 1990 que o GOC atua em cenários críticos de busca e salvamento. Por um lado, a procura de vítimas em estruturas colapsadas, como após um sismo ou desabamento, e por outro a localização de pessoas desaparecidas em grandes áreas, como florestas. “O nosso foco é encontrar pessoas vivas”, afirma o agente principal Jorge dos Santos.
Jorge entrou na PSP em 2000, inicialmente para o Corpo de Intervenção. Mas foi a relação com os cães que o fez mudar de rumo. “Houve um chamamento. Via os meus colegas a fazer demonstrações com os cães e decidi concorrer. Nunca mais larguei”, conta.
Desde então, já participou em dezenas de operações. Recorda particularmente uma missão em Lisboa, durante a reconstrução de um prédio: “Fomos chamados após um desmoronamento. Infelizmente, já só encontrámos os corpos. Mas os cães fizeram o seu trabalho.”
Hugo Tábuas, por sua vez, é o tratador de Zeus, outro pastor belga, e faz binómio com o cão há vários anos. Zeus está vocacionado para operações de ordem pública e intervenções táticas. O seu treino inclui busca de odor humano em ambientes confinados e atuações em situações de distúrbio social, como manifestações. É um cão que morde apenas sob comando do tratador e larga também por ordem expressa.
Este cão-polícia foi entregue ao agente principal Hugo Tábuas com apenas dois meses de idade. Desde então, criaram-se laços que se estenderam à família do agente. Durante oito anos, Zeus viveu com o tratador. “Foi a minha sorte grande na unidade”, diz, orgulhoso.
O pastor belga é uma das raças mais valorizadas nas forças especiais europeias, devido à sua agilidade, resistência e muita energia. “Enquanto outras raças se esgotam mais depressa, o pastor belga mantém o ritmo por mais tempo”, explica o agente, que integra a cinotecnia desde 2012, depois de uma carreira inicial no Corpo de Segurança Pessoal.
O cão deixou de viver com o agente quando atingiu uma idade em que precisava de maior estabilidade, passando a residir na unidade. Apesar disso, mantém uma ligação forte com a família humana. O filho do agente, hoje com 10 anos, cresceu lado a lado com Zeus, numa amizade que continua: “Ele nunca o esqueceu. São melhores amigos desde sempre.”
A unidade costuma treinar com pastores-alemães, malinois e alguns labradores. Os treinos envolvem desafios constantes: desde encontrar objetos escondidos, a simulações com vítimas humanas, passando por atividades lúdicas que estimulam o faro e a autonomia dos animais.
TREINOS CONSTANTES
Estes cães trabalham muitas vezes fora do campo de visão dos tratadores. Quando localizam uma pessoa ou objeto, a indicação é clara: ladram. Esse sinal auditivo permite aos agentes identificar rapidamente o ponto de interesse, mesmo sem verem o cão. “É uma forma de eles comunicarem connosco”, explica Jorge.
O 24 Horas fez a simulação: escondemo-nos atrás de uma árvore e vegetação alta. Boneca e Kid demonstraram a sua eficácia e encontraram-nos. Os animais ladram, contentes por terem conseguido fazer o seu trabalho.
Há também cães especialistas em encontrar armas e explosivos, que normalmente verificam locais onde vão estar altas individualidades, como o Presidente, membros do governo e homólogos estrangeiros. Os que farejam drogas ajudam nas buscas a residências de suspeitos.
As saídas operacionais variam consoante as necessidades: em média, a brigada é chamada cerca de 15 vezes por ano. “Depende sempre do que acontece. Mas quando é preciso, estamos prontos”, diz Jorge.
Quando não estão em missão, os cães continuam em treino constante e, por vezes, vão para casa com os tratadores, reforçando o vínculo entre ambos. “Somos incentivados a levá-los para casa. É uma relação que se constrói dentro e fora do serviço.”
Além de cães – neste momento 65 a viver nas instalações da BOC – e dos polícias há ainda uma equipa composta por três pessoas, com qualificações na área da veterinária. Não são médicos, mas são eles que acompanham os animais e tratam de questões básicas e cuidados diários. “Quando as situações são mais complexas levamos os cães a uma clínica veterinária”, explica Bruno Ratinho. Já os banhos são dados pelos treinadores, o que também estimula a amizade e cumplicidade entre os binómios.