Os Estados Unidos anunciaram um plano histórico para relançar a sua indústria nuclear, através de um investimento mínimo de 68 mil milhões de euros numa parceria entre o governo federal e a Westinghouse Electric, controlada pelos grupos Brookfield Asset Management e Cameco. Este acordo representa o maior compromisso com a energia nuclear no país liderado por Donald Trump, desde os anos 1970, e surge num contexto de forte crescimento da procura elétrica, impulsionada sobretudo por centros de dados e aplicações de inteligência artificial, que exigem fornecimento contínuo, previsível e em grande escala.
O investimento destina-se à construção de novos reatores do modelo AP1000, uma tecnologia já licenciada e em operação nos EUA e noutros países. Estima-se que os 68 mil milhões de euros permitam construir cerca de cinco novos reatores, aumentando de forma relevante a capacidade nuclear norte-americana. Um dos aspetos mais recentes e relevantes do acordo é o seu modelo financeiro: o governo poderá vir a receber até 20 % dos lucros futuros da Westinghouse, após determinados patamares de rentabilidade, e existe ainda a possibilidade de exigir uma oferta pública inicial da empresa caso o seu valor de mercado atinja objetivos previamente definidos até ao final da década.
O plano é também apresentado como um instrumento de política industrial e de emprego. As partes envolvidas indicam que o programa poderá gerar mais de 100 mil postos de trabalho ao longo da fase de construção, ao mesmo tempo que reforça a cadeia de fornecimento nuclear nos Estados Unidos, desde a produção de componentes até à engenharia especializada.
Paralelamente, o projeto insere-se numa estratégia de cooperação internacional mais ampla, com interesse manifestado por empresas japonesas em participar no financiamento e na execução de parte desta nova capacidade nuclear.
Apesar da dimensão e ambição do investimento, persistem desafios estruturais. A construção de centrais nucleares continua a ser um processo longo e complexo, frequentemente marcado por atrasos e derrapagens orçamentais, como demonstram projetos anteriores com tecnologia semelhante. Acresce ainda a escassez de mão-de-obra altamente qualificada no setor, um fator que poderá condicionar o ritmo de implementação.
Ainda assim, para a administração norte-americana, a energia nuclear permanece uma peça central da estratégia de segurança energética e de redução de emissões, considerada essencial para sustentar o crescimento tecnológico e económico nas próximas décadas.