Maurício Ribeiro, cujo percurso de trafulhices e calotes, fazem com que o seu currículo se assemelhe mais a um ‘cadastro’ do que a qualquer outra coisa, que nos últimos anos se especializou em abrir empresas produtoras de media e atirá-las para o precipício da falência, é afinal o verdadeiro do ’patrão’ do Conta Lá, o projeto televisivo pelo qual Sérgio Figueiredo, antigo diretor da TVI e ‘homem de mão’ de António Mexia, tem dado a cara.
É ele, Maurício Valente Ribeiro, ou ‘Rosiel de Assunção’, nome fictício que também usou durante um período da sua conturbada existência, quem de facto controla, através da ‘sua’ Baú d’Iniciativas, a empresa Conta Lá, Conteúdos Audiovisuais, Lda., da qual detém 66,67 por cento do capital, o equivalente a 70 136 euros. Além dele, apenas Sérgio Figueiredo, o rosto do projeto televisivo, surge como sócio – minoritário, diga-se de passagem. Através da Plataforma Coerente, a empresa que criou, há cinco anos, com a namorada Margarida Pinto Correia, Figueiredo detém a restante percentagem do capital social que ascende a pouco mais de 100 mil euros.

Maurício Ribeiro e Sérgio Figueiredo (respetivamente, o segundo e terceiro a contar da direita), uma ‘dupla’ improvável que comanda o Conta Lá – um mais que o outro…
Pelos vistos, contrariamente ao que fizeram gala de anunciar, ainda nem há seis meses, a dupla constituída por Maurício e Sérgio não conseguiu cativar outros investidores, como foi o caso de Luís Manuel Santos e Luís Miguel Fernandes, os empresários da área das tecnologias da informação, e que o jornal Eco, em 17 de junho passado, anunciava como “acionistas de referência”. Afinal, a New Anderthal, a empresa de compra, venda e administração de participações sociais destes dois potenciais investidores, que iria fazer parte da sociedade, roeu a corda…
Uma intricada teia de empresas
O verdadeiro dono do Conta Lá é um ilustre desconhecido para a maioria das pessoas, mas tem muito que contar. Mestre na arte do desenrascanço, tem sido capaz de se reerguer das cinzas a cada falhanço e de prosseguir com novos amigos no doloroso caminho das falências. Depois de estoirar com a produtora Just Cine e depois com a Just Up, tal como o 24Horas contou recentemente, abriu em 2018 a Maumau Mia – que, ao fim de sete anos de atividade, e de ter passado estranhamento de donos como quem troca de camisa ao longo dos últimos tempos, tem uma fartura de credores à perna: é alvo de 12 processos de execução de dívidas que, segundo as nossas fontes, totalizam praticamente 600 mil euros.
No rol de credores da Maumau Mia, cujo gerente é o sempre presente Maurício Ribeiro, temos, entre outros, o Millennium bcp (322 mil euros), o escritório de advocacia Schiappa Cabral e Associados (14 mil e 520 euros), Mafalda Mendes de Almeida, autora de três ações executivas no valor total de 16.561 euros.
Mas a sociedade com que Maurício Ribeiro surge como principal acionista da Conta Lá, Lda. é outra – a Baú de d’Iniciativas, uma empresa com pouco mais de um ano de existência, sede na Rua do Cebola, em Benavente, capital social de 1 milhão de euros, e em que o polémico Maurício possui 95 por cento.
Tendo como objeto social, entre outros, “a gestão de investimentos e participações(…), a tomada de participações sociais (…), e a consultoria de gestão para organizações com e sem fins lucrativos”, a Baú d’ Iniciativas apresenta um resultado líquido anual de 383 euros negativos.
Pese embora os resultados não serem famosos, esta empresa, para além de ser maioritária na Conta Lá, Lda., ainda possui participações em outras duas, ambas com sede na mesma Rua do Cebola – a Formiga Cosmopolita e a Bússola Exclusiva, com 50 e 5 por cento respetivamente.
Sublinhe-se, já agora, que apesar de contar apenas com pouco mais de um ano de vida, esta empresa não ‘foge’ muito do que se pode denominar como ‘padrão Maurício’: já conta com, pelo menos, uma ação judicial no valor de 168 mil euros, processo esse que está a correr na Comarca de Santarém, onde deu entrada em 16 de janeiro deste ano.
O estranho papel de Sérgio
Um dos grandes mistérios do projeto Conta Lá, é o papel que Sérgio Figueiredo tem desempenhado em todo este estranho ‘folhetim’. O país conhece-o como diretor de informação da TVI, entre 2015 e 2020, e lembra-se especialmente da notícia em rodapé, que o canal passou na noite de 13 de dezembro de 2015, a dar conta da iminente dissolução do Banif. A notícia incendiou o mercado financeiro: provocou uma desenfreada corrida aos depósitos – e beneficiou um dos então acionistas da TVI, o Santander, que acabou por comprar o banco a preço de saldo. O ‘caso do rodapé’, como ficou conhecido nos meandros da justiça, foi parar a tribunal e arrastou-se durante anos, até que o ex-diretor de informação conseguiu ser absolvido à segunda pela Relação de Lisboa.

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Sérgio é sócio de Maurício Ribeiro no Conta Lá através da sua firma Plataforma Coerente, que detém 30 por cento do capital que ronda os 105 mil euros. Esta empresa dedica-se às atividades de relações públicas e de comunicação e à produção de filmes e programas de televisão, e Sérgio constituiu-a há cinco anos com a namorada, Margarida Pinto Correia – ele tem 70 por cento do capital de cinco mil euros, ela detém os restante trinta. Apesar da Plataforma Coerente ser minoritário na Conta Lá, Lda., curiosamente Sérgio Figueiredo desempenha as funções de presidente do conselho de administração, ainda que a sociedade esteja obrigada a duas assinaturas – a dele e, claro, a do ‘inevitável’ Maurício Ribeiro, que é apresentado como vogal.
Refira-se que a empresa de Sérgio e Margarida ganhou nos últimos cinco anos cerca 237 mil euros em contratos públicos. Só em maio do ano passado, à conta de uma tal “coordenação do projeto de desenvolvimento assente nas artes e património”, um concurso lançado pela Câmara Municipal da Guarda, abichou 74 mil e 900 euros. Um concurso, que obrigava à consulta de mais concorrentes, apenas surgiram duas empresas – essa tal Plataforma, claro, e uma outra, nada mais, nada menos, que a Maumau Mia, cujo gerente é, claro, o intrépido Maurício Ribeiro…
Quem conhece Sérgio Figueiredo não percebe como é que ele se deixa, aos 60 anos, enredar em situações deste género, especialmente depois do que se passou na TVI, e também posteriormente da frustrada contratação para o gabinete do então ministro das Finanças, o socialista Fernando Medina: “O seu perfil e personalidade pouco ou nada tem a ver um com o de Maurício”, confidencia um seu amigo de anos ao 24Horas. A mesma fonte que garante não perceber como é que Sérgio, que foi o ‘homem de mão’ de António Mexia ao longo de anos a fio, se predispôs a embarcar num projeto que, dado ‘cadastro’ do seu sócio, tem tudo para acabar mal.