O primeiro movimento diplomático da ‘era Rangel’ está a levantar uma contestação surda no Palácio das Necessidades, não faltando quem aponte a “falta de lógica” do mesmo, “tão estranho, quanto bizarro”, tal como o classificou ao 24Horas um experimentado diplomata.
O afastamento de Francisco Alegre da chefia da embaixada portuguesa em Luanda, e a sua inopinada transferência para Estocolmo, é um claro exemplo disso mesmo, até pelo facto da capital sueca não ser considerada como a mais adequada para Alegre: “O Francisco foi porventura o melhor embaixador que passou por Luanda nos últimos 20 anos, e é incompreensível a forma como é transferido para Estocolmo, uma embaixada claramente de segunda ou mesmo terceira linha no ranking da nossa diplomacia”, confidenciou um seu colega que não se coíbe de apontar Madrid, Paris, Berlim, Roma ou mesmo Londres como capitais para onde “faria bastante mais sentido” colocar Alegre.
Acresce a tudo isto que o nome do seu substituto na capital angolana também não é considerado como o mais aconselhável, até porque ao discreto Nuno Mathias, até agora colocado em Riad, apesar de pertencer a uma conhecida estirpe de diplomatas (os Mathias já vão na quarta geração ao serviço das Necessidades) não se lhe reconhece perfil suficiente para ocupar a chefia de uma missão diplomática tão importante quanto a portuguesa em Angola: “São lugares que exigem um instinto e um ‘jogo de cintura’ que o Nuno não possui”, murmura-se no seio do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Mas Francisco Alegre não é o único embaixador que se pode queixar deste movimento diplomático levado a cabo por Rangel. Que o diga Luís Faro Ramos, que após cinco anos em Brasília, um dos principais postos da nossa diplomacia, se viu transferido para Marrocos, onde irá ocupar a chefia da embaixada portuguesa em Rabat, naquilo que é interpretado nas Necessidades como “uma clara despromoção”. Para o seu lugar em Brasília, Rangel foi ‘desencantar’ a Caracas, onde estava ao serviço da União Europeia, a diplomata Isabel Pedrosa, uma escolha tida para muitos como “inexplicável”, até porque os postos anteriormente ocupados por Pedrosa ao serviço da diplomacia portuguesa (Líbia e Namíbia) não justificam a sua escolha para uma embaixada de primeira linha como a de Brasília.
Tão inexplicável quanto a transferência de Paulo Nascimento, até agora embaixador em Pequim, e que surpreendentemente, não se percebe a propósito de quê, foi colocado em Adis Adeba, a capital da Etiópia, para onde, vindo da Cidade do México, foi nomeado Carlos Cansado de Carvalho. Ou de Carlos Pereira Marques, que deixa Rabat para ir substituir Bernardo Futscher Pereira na nossa embaixada em Roma, uma outra nomeação que tem sido motivo das muitas conversas que nos últimos dias tomaram conta dos longos corredores das Necessidades.
Entre as outras muitas ‘trocas e baldrocas’ decididas por Paulo Rangel, destaque para a ida de Amélia Paiva, até há pouco assessora diplomática de Marcelo Rebelo de Sousa e que, desde há um mês, é a nova representante diplomática junto da Santa Sé, sucedendo a Domingos Fezas Vital, que se aposentou após quatro anos no Vaticano. Por outro lado, há cerca de três meses, Francisco Ribeiro Menezes e José Augusto Duarte, esses, já tinham trocado de capitais – Menezes rumou de Madrid a Paris, onde substituiu Duarte que, por seu turno, viajou até à capital espanhola.
Referência ainda para a nomeação de Sara Martins para a nossa embaixada em Moscovo; de Madalena Fisher para Berlim; a mudança de Jorge Roza Oliveira de Budapeste para Tunes; de Gabriela Albergaria para Jacarta, onde substituiu Miguel Calheiros Velozo; de Frederico Silva para Caracas, onde sucedeu a Fins do Lago, que ruma até Dublin; ou de Conceição Pilar, que irá ocupar a nossa embaixada em Montevideu; entre outras movimentações.