Não sei onde, há 50 anos, andariam os drs. Nuno Melo e Paulo Núncio, ou seja, o que hoje resta...
Não sei onde, há 50 anos, andariam os drs. Nuno Melo e Paulo Núncio, ou seja, o que hoje resta do CDS. Agora, um com 59, e outro com 57 anos, presumo-os então ainda de bibe. E se ao dr. Melo o imagino em Joane a jogar à apanhada, ao berlinde, ou a fazer corridas de carrinhos, ao dr. Núncio, a esse, estou a vê-lo, de barrete na cabeça, a citar de longe um touro imaginário, ‘ensaiando’ uma pega de caras. Imagino-os a ambos – e sublinhe-se que é natural que assim o seja – muito mais empenhados com essas normais travessuras de infância, do que propriamente preocupados com o avanço de quem não se importava de ver insaturado um regime de cariz totalitário no nosso país.
Se tivessem mais uns anitos naquele tempo, aposto que o dr. Melo e o dr. Núncio,das três, uma: ou estavam escondidos nalguma sacristia, de rabinho entre as pernas, debaixo da sotaina de algum padre; ou andavam por Copacabana; ou então, aqui ao lado, na então cosmopolita Gran Via, deliciavam-se com uns saborosos ‘churros con chocolate’. É que, salvas raras e honrosas exceções, era aí que, nos tais ‘anos da brasa’, quando os democratas combatiam os que na altura queriam ver o país virar (ainda) mais à esquerda, o CDS estava – ou escondido nalguma sacristia, ou ao sol no Rio de Janeiro, ou então a fingir que conspirava em Madrid…
Hoje, porque a história de facto dá grandes voltas, mas também porque o Partido Socialista parece ter vergonha do seu passado, e com a conivência de um PPD/PSD que, para meu espanto, talvez por lhe faltar memória, aceita ser subalternizado por um parceiro menor, o CDS, ou o que ainda resta dele, quer apropriar-se do 25 de Novembro, uma data com a qual nunca nada teve a ver, e que pertence (sem aspas) a quem, na verdadeira aceção da palavra, de facto o fez – aos militares do ‘grupo dos Nove’, aos socialistas e também aos que, no PPD/PSD, não hesitaram até em pegar em armas e sair para as ruas e estradas por esse país fora.
Quem se lembra daqueles meses, e quem assistiu à forma como despontou e atuou a resistência ao devaneio totalitário de uma certa esquerda, então tão deslumbrada, quanto irracional, sabe bem quem eram os que de facto estavam nas ‘trincheiras’ e do lado certo da História e quem eram os que, por medo e oportunismo, apenas surgiram ao lado dos vitoriosos, quando o perigo se esfumou.
Vou mais longe: quem viveu aqueles tempos, quem soube em 1975 qual era o seu lugar, consegue apesar de tudo ter mais respeito pelos que, pese embora estivessem do lado contrário, tiveram aquilo que faltou a quem se furtou à obrigação e ao dever de lutar pela Democracia – a coragem.