Frase do dia

  • 'Embaraço-me porque votei AD', Ribeiro e Castro
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João Murillo

Como fazer o maior elogio a quem sempre procurou encontrar o melhor em todos? Talvez comece assim: um dos maiores exercícios...

Como fazer o maior elogio a quem sempre procurou encontrar o melhor em todos?
Talvez comece assim: um dos maiores exercícios da vida é conseguirmo-nos colocar, em todas as circunstâncias, no lugar do outro.
Mesmo nas extremas — e a mais extrema de todas é a morte.
Se pudesse falar por ele, diria que gostaria que celebrássemos aquilo que mais valorizava: que todos somos únicos; que o saber não ocupa lugar; e que, para além de nós, existe uma relação profunda entre conhecimento, beleza e sabedoria — algo que devemos cultivar todos os dias.
Fazê-lo com zelo, com personalidade e sem pressas — mas, ainda assim, com alguma urgência.
Nem todas as crónicas podem terminar com um nome próprio.
Esta pode.
É sobre alguém que soube homenagear o presente, alcançar a eternidade junto de todos com quem privou e, até, a imortalidade através da obra que nos deixou.
A cultura não é o que todos nós fazemos, nem o que todos nós sabemos.
Mas quanto mais fizermos e quanto mais soubermos, mais e melhor cultura será a que nos rodeia.
Fez da pintura a sua relação com o sagrado e do conhecimento a sua relação com a vida.
A verdade é que o seu conhecimento se tornou sagrado — e a sua arte, cultura.
É curioso: sempre que alguém parte, diz-se “deixou-nos uma pessoa ímpar e ficámos mais pobres”.
Tudo verdade. Mas, neste caso, é mais fundo.
Ele reconhecia como poucos a importância da individualidade de cada um de nós.
Ambicionou sempre ir mais além no conhecimento e na forma hábil, generosa e harmoniosa como o partilhou com todos os que o rodeavam.
Distribuía conhecimento com a mesma naturalidade com que partilhava a sua voz grave e bem colocada.
Nos seus gestos finos e cavalheirescos, trazia as agruras do mar, dos portos, dos lugares onde pernoitou.
No tempo que dedicava a escutar, acrescentava sempre algo à narrativa com desprendimento, com verdade tal como falava das suas conquistas e honrarias.
Homens raros sempre existiram e, assim espero, continuarão a existir.
Mas este tinha o porte histórico dos que deveriam existir sempre: os que acrescentam e melhoram a vida dos que com eles partilham momentos por mais breves que sejam.
Abstenho-me de falar da sua obra, das suas conquistas e do muito que ainda poderia ter alcançado.
Faço-o porque o ser humano que nos deixou foi, sempre, maior do que a sua obra.
Uma palavra meiga, com sabor a abraço fundo, para a Isabel — sua companheira até ao último respirar.
Sabes, Isabel — eu sei que sabes — quem tanto valorizou a beleza teve a felicidade de te ter ao seu lado.
Beijinho grande.
Não me despeço de ti, meu amigo, meu colega, meu irmão.
Que o teu descanso seja como foi a tua vida: bela, intensa e cheia de significado para ti, e para todos os que tiveram o privilégio de te ter nas suas vidas.
Até já, meu caro Luís Vieira Baptista.