As comemorações do 1.º de Dezembro, dia da Restauração da Independência, voltam todos os anos como um lembrete silencioso de...
As comemorações do 1.º de Dezembro, dia da Restauração da Independência, voltam todos os anos como um lembrete silencioso de que a soberania nunca está definitivamente garantida.
Em 1640, a coragem de um grupo de conjurados, um punhado de nobres patriotas, que tudo arriscaram num único lance contra a maior potência imperial do mundo, naquele tempo, prevaleceu contra todas as probabilidades.
Arriscaram as suas vidas, as suas fortunas e a continuidade das suas famílias e também a sua honra, que geralmente é negada aos vencidos.
Mas um lance decidido e certeiro fez devolver a Portugal a autonomia soberana, perdida durante os sessenta anos da União Ibérica.
Um lance que depois do triunfo inicial, teve de ser continuado e confirmado por 28 anos de guerra, por uma arguta política diplomática, por bons governos, e acima de tudo, por muitos sacrifícios do povo.
Não foi fácil.
Hoje, porém, a defesa da independência nacional já não se faz com espadas nem barricadas, nem há império a defender perante as outras potências. Mas faz-se com lucidez estratégica, coesão social, instituições fortes, e capacidade de antecipar riscos num mundo cada vez mais volátil.
Celebrar esta data não deve limitar-se a mais um feriado em tempos adventícios ou a um ritual cívico discreto na Praça dos Restauradores, em Lisboa.
Este deve ser um momento para refletirmos sobre que independência queremos preservar: a económica, a energética, a digital, a militar, e, acima de tudo, a independência de decisão.
Portugal está integrado em alianças e estruturas internacionais que lhe conferem segurança e prosperidade, mas essa integração não pode significar passividade. Num tempo de pressões geopolíticas, guerras híbridas e dependências externas crescentes, um país médio precisa de estratégia, não de resignação.
A melhor defesa da independência hoje passa por diversificar parceiros, fortalecer a capacidade produtiva interna, proteger infraestruturas críticas, investir na cibersegurança e reforçar a literacia democrática.
E passa também por garantir que o debate público é plural, informado e imune a manipulações externas.
O 1.º de Dezembro recorda-nos que a independência foi conquistada porque alguém ousou querer um país autónomo com o seu próprio Chefe de Estado, e agir em consequência.
Honrar essa herança exige que, coletivamente, não deixemos de questionar se estamos a proteger o nosso futuro com a mesma determinação.
As eleições presidenciais são precisamente o momento mais adequado para pensarmos e decidir em conformidade sobre qual dos presentes candidatos estará mais apto a exercer a chefia do Estado, a garantir o funcionamento regular das instituições democráticas e o comando supremo das Forças Armadas.
Quem, de todos os candidatos, melhor saberá dar corpo ao nosso projecto quase milenar de subsistência de Portugal como nação independente?
Porque essa decisão cabe-nos a nós. Porque a soberania não se celebra apenas – constrói-se, pelas nossas decisões, todos os dias.
Celebramos, com inteira justiça, a coragem e patriotismo dos nossos egrégios avós. Mas temos de decidir agora, no nosso tempo, se queremos e como queremos continuar Portugal, e quem deve representar esse desígnio colectivo.