Frase do dia

  • 'Embaraço-me porque votei AD', Ribeiro e Castro
  • 'Embaraço-me porque votei AD', Ribeiro e Castro
  • 'Embaraço-me porque votei AD', Ribeiro e Castro
  • 'Embaraço-me porque votei AD', Ribeiro e Castro
  • 'Embaraço-me porque votei AD', Ribeiro e Castro
  • 'Embaraço-me porque votei AD', Ribeiro e Castro
  • 'Embaraço-me porque votei AD', Ribeiro e Castro
  • 'Embaraço-me porque votei AD', Ribeiro e Castro
  • 'Embaraço-me porque votei AD', Ribeiro e Castro
  • 'Embaraço-me porque votei AD', Ribeiro e Castro
  • 'Embaraço-me porque votei AD', Ribeiro e Castro
  • 'Embaraço-me porque votei AD', Ribeiro e Castro
  • 'Embaraço-me porque votei AD', Ribeiro e Castro
  • 'Embaraço-me porque votei AD', Ribeiro e Castro
  • 'Embaraço-me porque votei AD', Ribeiro e Castro
  • 'Embaraço-me porque votei AD', Ribeiro e Castro
  • 'Embaraço-me porque votei AD', Ribeiro e Castro
Search
João Vasco Almeida

Li esta semana, não sem um arrepio na espinha, a notícia de uma parturiente que, já nas instalações de um...

Li esta semana, não sem um arrepio na espinha, a notícia de uma parturiente que, já nas instalações de um hospital, deu à luz em pé, deixando o recém-nascido cair desamparado no chão. O facto, que poderia figurar numa antologia do humor mais negro, é a mais recente e sonora bofetada na face de todos nós, contribuintes e crentes ocasionais num sistema que nos acena com promessas de um óptimo funcionamento. Não caiu o pobre anjo num cesto de peixe, como no romance “O Perfume”, para amortecer o primeiro contacto com o mundo. Não. Teve o nosso neófito compatriota um baptismo a seco, um encontro imediato e brutal com a dura realidade do pavimento pátrio.

Eis a metáfora perfeita para o Portugal contemporâneo: nascer já é um acto de contorcionismo, uma queda livre sem rede, onde o primeiro aplauso é o som oco da cabeça a embater no chão que todos pisamos. A burocracia, impávida e serena, tomará certamente conta do caso, preenchendo formulários e abrindo inquéritos que se arrastarão como lesmas reumáticas. Mas o essencial está feito. Aquela criança, caros leitores, já recebeu a primeira e mais importante lição da sua cidadania: a de que o Estado, essa entidade abstracta e com frequência inepta, aparecerá sempre tarde demais, de preferência depois do trambolhão.

O mais fascinante em todo este grotesco espectáculo é o silêncio resignado com que acolhemos estas bizarrias. O nosso Primeiro-Ministro, porventura ocupado com questões de maior altitude, não parece particularmente apoquentado com o facto de os seus futuros eleitores iniciarem a vida com um traumatismo craniano. Poderia, num assomo de sinceridade, dizer-nos ao serão: «Habituem-se». E, no fundo, é o que temos feito. Habituámo-nos a este estado de coisas, a este encolher de ombros colectivo perante o absurdo.

Mas olhemos o lado positivo, que a minha natureza cínica insiste em lobrigar. Aquela criança não nasceu em desgraça. Nasceu, isso sim, perfeitamente adaptada. Já sabe, desde o segundo zero, que por cá a vida não é um conto de fadas cor-de-rosa. É uma sucessão de impactos imprevistos. Está, portanto, melhor preparada do que todas as outras. Bem-vinda ao clube, pequena criatura. Já levaste com a porta na cara antes mesmo de a abrirem. És um de nós.