Tenho boas e fundadas razões para evitar os noticiários das nossas televisões. Opinativos e pesporrentes, repetitivos e intermináveis, mal informados...
Tenho boas e fundadas razões para evitar os noticiários das nossas televisões. Opinativos e pesporrentes, repetitivos e intermináveis, mal informados e saloios, são na sua pelintrice a negação de tudo o que se espera de um telejornal. São telenovelas com o guião desgovernado. Felizmente, um zapping ao alcance do dedo oferece-nos muitas alternativas a este insuportável pátio das cantigas.
Entre essas razões, porém, uma ultrapassa todas as outras: a estopada que é ter de aturar os chamados pivôs – esses doutores da mula ruça encarregados de torturar quem lhes cai nas unhas.
Sempre que vejo um pobre inocente entrar no estúdio e sujeitar-se a ser “entrevistado” por um daqueles fedelhos insolentes, sinto uma piedade infinda pelo cordeiro sacrificado. O sorriso cândido com que chega vai-se transformando em esgar amargo à medida que é contraditado, provocado, apoucado, humilhado.
Quem pensa que vai à televisão para ser ouvido faria bem em pensar outra vez. Ouvido, ali, só o pivô. As suas opiniões é que estão “do lado certo da história”, as suas formulações superiores é que ficarão gravadas para sempre nos anais do éter. O entrevistado está ali apenas para servir de ponto ao entrevistador. Para ser interrompido. Para não conseguir explicar uma ideia até ao fim. Para ter os seus pontos de vista rebatidos por sorrisos sarcásticos e apartes impertinentes. Raro é aquele que consegue acabar uma frase.
Hoje, dar uma entrevista a uma televisão é como ser convidado para jantar e passar o tempo a ser achincalhado pelo dono da casa. Em muitos casos, é pior do que responder a um interrogatório na sede da Gestapo ou do KGB.
Se ouvi-los já é mau, vê-los não é melhor. Elas com ar de quem engoliu um cabide, empertigadas para não desmancharem o penteado suburbano, todas boquinhas e trejeitos de ninfeta, a pergunta parva pronta a estalar; eles, boxeurs amaneirados, de oculinhos estrambólicos e sorrisos autoconvencidos, naquela pose milenar de sabichões das dúzias. Armados em espertos. Gastando eternidades no “enquadramento” inútil para depois concederem à vítima breves segundos para se explicar. “Em duas palavras, que temos de ir para intervalo”.
Arrrggghh!
Com esta farsa a correr na pantalha (e salvaguardadas as raras excepções), não se me pode censurar que fuja a sete pés dos noticiários das nossas televisões, especialmente agora, que a campanha eleitoral pôs as hormonas dos manjericos aos saltos. Não, não se me pode censurar que esteja farto. Fartinho. Fartinho de bacoquice parola. Fartinho de má educação. Fartinho de má informação. Fartinho até à raiz dos cabelos.
Zap!
*Jorge Morais foi director do 24horas. Neste novo 24Horas retoma o “Bom dia!”, título genérico da sua crónica diária no antigo jornal impresso.