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  • 'Embaraço-me porque votei AD', Ribeiro e Castro
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João Vasco Almeida

Há na ciência política contemporânea uma teoria pouco estudada, mas empiricamente irresistível: a do Silenciamento por Altitude. Funciona assim: quanto...

Há na ciência política contemporânea uma teoria pouco estudada, mas empiricamente irresistível: a do Silenciamento por Altitude. Funciona assim: quanto mais elevada a posição de um agitador vocal, menor o ruído que consegue produzir. É física básica, conjugada com psicologia das massas e um toque de gestão de recursos humanos aplicada ao espectáculo mediático.

Proponho, pois, que se eleja o Dr. aVentura para Presidente, Primeiro-Ministro, ou qualquer função decorativa que o seu ego comportar sem implodir. Quanto mais depressa, melhor. A urgência não é política — é acústica. O homem transformou a praça pública num monodiálogo obsessivo, repetitivo na temática e tão excitante quanto o autor das legendas da CMTV durante os jogos da bola. É como ouvir a mesma campainha tocar durante três anos. Eventualmente, o cérebro deixa de registar o som como informação e classifica-o como poluição sonora de fundo.

Não constando nos planos do Dr. aVentura invadir a Polónia através da Jerónimo Martins — operação que, convenhamos, seria logisticamente complexa e pouco rentável em termos de narrativa heróica —, nem tampouco marchar sobre Paris, não vá ele espezinhar um português “de bem” que lá mora e paga impostos aos franceses (traição imperdoável, certamente), resta-nos a solução vertical. Elevação estratégica. Consagração imediata. O homem merece, e Portugal igualmente merece: três Salazares, dois Marcellos e um João Franco em cada esquina. Todos de meia de liga, malinha de puta e batom laranja com purpurinas, naturalmente. Porque se vamos transformar o país num parque temático da nostalgia autoritária, ao menos que seja kitsch o suficiente para ninguém o confundir com a realidade.

A beleza do plano está na sua simplicidade darwiniana: levem o Dr. aVentura aos píncaros dos Himalaias, de helicóptero de preferência, para que se cale ou fique somente a ouvir o próprio eco. No Evereste não há plateia, apenas sherpa educados demais para interromper. Ali, finalmente, ele poderá discursar para as nuvens, que têm a paciência infinita dos elementos naturais e a vantagem adicional de não votarem. O eco, esse, sim, responderá sempre — mas com o atraso suficiente para criar a ilusão de diálogo sem a inconveniência da discordância.

Resta ainda a questão da oportunidade. É preciso agir antes que Cristiano Ronaldo se lembre de querer jantar com ele. Porque se isso acontecer, a cobertura mediática transformará o evento numa espécie de ceia mística pós-moderna, com análises infindáveis sobre o simbolismo do vinho escolhido e especulações sobre se houve ou não abraço à despedida. E aí, meus amigos, já não haverá Himalaias suficientemente altos nem helicópteros suficientemente rápidos. A máquina de ruído tornar-se-á auto-sustentável, alimentada pela curiosidade mórbida de quem não consegue parar de olhar para o desastre em câmara lenta.

A solução está, como sempre esteve, na física das montanhas e na sabedoria dos alpinistas: o ar rarefeito não permite gritos prolongados.