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  • 'Embaraço-me porque votei AD', Ribeiro e Castro
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João Vasco Almeida

"No plaino abandonado, que nem aquece, nem arrefece…"* Enche-se a bucha de lutos nacionais quando temos apenas memória colectiva de peixe....

“No plaino abandonado, que nem aquece, nem arrefece…”*

Enche-se a bucha de lutos nacionais quando temos apenas memória colectiva de peixe. Agora, ontem e hoje, há luto pelo falecimento de Pinto Balsemão. Coisa de que nos esquecemos quando faleceram Fernando Gil, Fausto Bordalo Dias, Moisés Espírito Santo, Maria Teresa Horta, Manuel Sérgio, Teresa Caeiro, enfim, só para citar alguns dos nossos mais respeitados e a quem Montenegro e Marcelo se esqueceram selectivamente de marcar data. O luto parece mais difícil obter quando não se é da situação. Mais custoso do que sacar a comenda «Torre e Espada».

Parece haver um catálogo invisível que decide quem merece bandeira a meia-haste. É uma espécie de Bíblia dos Agradáveis: quem foi útil ao sistema, recebe pano e pompa; quem pensou demasiado, leva silêncio e esquecimento. Portugal sempre teve este talento peculiar – o de transformar a homenagem em instrumento político, embrulhado em lágrimas de conveniência.

Imagine-se o cenário: um cidadão comum, de chapéu na mão, vê o noticiário e pergunta à esposa – «Mas este senhor não era aquele do jornal?» – e ela responde, distraída, «Sim, mas também foi do poder». Nesse instante, compreende-se tudo. O luto nacional não é sobre quem partiu, é sobre quem ficou a mandar.

Em vez de nos juntarmos na dor, competimos pela fotografia do pesar. Um ministro enverga gravata escura, outro afina o tom fúnebre, e o povo, esse, tenta perceber se deve chorar ou mudar de canal. Somos um país que faz do adeus uma cerimónia de ranking.

Talvez um dia haja um luto nacional pelo desaparecimento da coerência. A bandeira descerá a meia-haste, e ninguém saberá exactamente porquê – apenas que soa bem. E, quem sabe, nesse dia, alguém se lembrará de perguntar se a memória também devia vestir de preto.

*Frase inspirada em ‘O menino da sua mãe’, de Fernando Pessoa