Muito se tem vindo a discutir sobre a forma como a Inteligência Artificial vai mudar o Trabalho em geral, destruir...
Muito se tem vindo a discutir sobre a forma como a Inteligência Artificial vai mudar o Trabalho em geral, destruir postos de trabalho e mudar o emprego de forma decisiva para as gerações futuras. Porém, algumas análises apontam para um cenário pessimista, quase apocalíptico, sobre os efeitos nefastos da IA no mercado de trabalho.
A Inteligência Artificial não tem necessariamente de destruir postos de trabalho…esta é uma visão simplista e, muitas vezes, alarmista do impacto tecnológico no mercado laboral. Na realidade, a IA pode ser uma poderosa aliada na criação de valor, na melhoria das condições de trabalho e até na criação de novas profissões. Tudo depende da forma como a sociedade, as empresas e os governos escolhem integrá-la.
Segundo estudos recentes, a adoção da IA pode automatizar até 45% das horas trabalhadas nos próximos anos, especialmente em tarefas manuais e repetitivas, o que pode levar à eliminação de algumas formas de emprego. Mas a IA também vai criar novas formas de emprego e vai exigir o desenvolvimento de novas competências, em particular na área da tecnologia, da análise e da modelação de dados.
Estudos indicam que, apesar do desaparecimento de alguns empregos (estima-se que até 92 milhões podem ser eliminados globalmente até 2030), haverá uma criação ainda maior de novas posições (cerca de 170 milhões), resultando, portanto, numa transformação da natureza do trabalho mais do que na destruição de empregos. Claramente que para isso os Estados, as empresas e os trabalhadores precisarão investir na formação e na qualificação de competências digitais, para acompanhar essa profunda transformação.
Devemos ainda considerar a transformação dos hábitos laborais, onde a IA poderá contribuir de forma decisiva para a redução da carga laboral dos trabalhadores, que poderão ser mais produtivos com menos horas de trabalho, eliminando os erros resultantes de atividades manuais e aumentando a capacidade de processamento nas atividades envolvidas. Ou seja, a melhoria do equilíbrio entre Trabalho e vida pessoal dos cidadãos.
O recurso à IA também pode ser uma solução para a escassez de mão de obra qualificada em alguns setores, especialmente na Europa, dado o envelhecimento geral da população. Além disso, a IA pode ainda automatizar tarefas perigosas, melhorar as condições de trabalho e ajudar a tomada de decisões. Finalmente, acredito que a IA, paradoxalmente, pode tornar o trabalho mais humano. Ao libertar os trabalhadores de tarefas mecânicas, cria-se espaço para atividades que requerem mais proximidade, empa/a, cuidado, inteligência emocional e pensamento estratégico, sendo estas qualidades distintivamente humanas que teremos de preservar
Em resumo, a IA não é inevitavelmente destrutiva para o emprego. É uma ferramenta, e como qualquer ferramenta, o seu impacto depende da forma como é usada. Com visão estratégica, foco na qualificação e com políticas públicas adequadas, a IA pode ser um motor de crescimento, de inclusão e de melhoria da qualidade de vida no trabalho. A IA mudará o mundo do trabalho e adaptar-se a essa nova era será crucial para todos nós, basta que saibamos aproveitar esta extraordinária oportunidade e sejamos capazes de dar as devidas respostas a tempo. Para tal, o combate à burocracia e estaticismo e implementação de reformas legislavas serão essenciais e decisivas. Não haverá segunda oportunidade.
Alexandre Fonseca é empresário, gestor e business advisor, administrador do TagusPark e presidente do Conselho Estratégico da Economia Digital da CIP