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“Um debate deve ser um jogo de capoeira, não um combate de boxe, até porque o objetivo não é agredir o adversário, mas sim impressionar a plateia”
Antônio Lavareda
Desconheço se André Ventura conhece, ou não, esta definição do brasileiro Antônio Lavareda, colaborador desta casa e um dos mais lúcidos cientistas políticos que me foi dado conhecer, sobre o que deve ser um debate televisivo. Mas bastou-me assistir às recentes prestações de Ventura para me recordar desta máxima, tão certeira, quanto oportuna.
Uma das coisas que mais me saltou à vista nos dois debates de Ventura a que assisti – um contra António José Seguro, e o outro, há dias, o que o opôs a Luís Marques Mendes – foi que o líder do Chega não comete o erro que praticamente todos os seus adversários cometem – o de querer ganhar os debates, o de querer nocautear o oponente. Para ele, isso é coisa que, sucedendo, vem por acréscimo, não é de todo o mais importante, serve quando muito para que os inúmeros comentadores que pululam por essas televisões fora se entretenham.
O que conta para ele utilizando a expressão de Lavareda, é impressionar a plateia – é isso apenas que o move. Para Ventura, mais do que ganhar um debate, o importante é ser eficaz, ou seja, ir ao encontro aos seus objetivos, seja o seu oponente quem ele for. Nos casos acima referidos, e duvido que seja diferente nos outros debates que ainda aí vêm, o objetivo de Ventura é só um – ‘blindar’ o seu eleitorado, conservá-lo, garantindo uma ida à segunda volta, o que à partida um ‘score’ eleitoral semelhante ao que o seu partido alcançou nas últimas legislativas, lhe garante.
Para isso, Ventura tem executado uma estratégia eficaz, a de ‘obrigar’ os seus adversários a debater os temas que mais lhe convêm, os temas em que ele se sente mais à vontade, e os que sabe que o seu eleitorado quer ouvir. Isso é logo meio-caminho andado para que, ao fim de cada meia-hora, saiba que cumpriu a missão que definiu à partida.
Não fazendo mesmo, muitas vezes, qualquer caso das questões que os moderadores possam introduzir, é certo e sabido que a Ventura, quando se lhe falam de alhos, não perde tempo em responder bugalhos, levando os seus adversários, até pela forma vocal como se lhes dirige, a cair num ‘jogo’ onde à partida não se sentem confortáveis e onde menos jeito e habilidade mostram.
Foi assim com Seguro, foi assim com Marques Mendes – será certamente assim com o almirante Gouveia e Melo e até com Cotrim, só para citar os adversários com quem está a disputar a primeira volta destas presidenciais.
Só para terminar: e será certamente por isso também que, além do facto dos dois debates televisivos em que participou serem os dois mais vistos até agora, foram os únicos que ultrapassaram o milhão de telespetadores.