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Aura Arantes Fontes

Em direto, nas televisões, assistimos a uma “manifestação” à porta de um centro comercial, em Lisboa, onde decorria a apresentação...

Em direto, nas televisões, assistimos a uma “manifestação” à porta de um centro comercial, em Lisboa, onde decorria a apresentação da obra de Henrique Cymerman, ‘O Enigma de Israel’.

A “manifestação” não foi silenciosa, nem pacífica… Foi violenta e histriónica! Surpreendeu pela excessiva emocionalidade manifestada pelos seus intervenientes que, de forma desenfreada, chamavam sobre si a atenção de todos os que por aí passavam. Foram provocados aqueles que, saindo das instalações, levavam consigo um exemplar da obra, o seu exemplar! E foram, só por isso, confrontados e apupados.

Quem por ali passava assistiu, também, a uma muito ousada provocação directa às forças da autoridade que não lograram dissuadir os excessos comportamentais dos manifestantes.

Sobre quem rasgou as páginas do livro, retirado por “esticão” a quem o havia comprado, desconhecemos se alguma vez o terá lido e se conhecia o seu conteúdo… Mas sabemos que o insólito episódio se traduziu numa manifestação primária e deplorável que atentou contra as mais elementares regras de convivência democrática.

A destruição afanosa de obras, literárias e/ou científicas, tem leitura antropológica. A história remete-nos para vários períodos negros da humanidade. Tempos, esses, sempre marcados pela intolerância, pelo conflito e pela desordem.

Uma obra como esta incorpora saber, investigação, ponderação e, acima de tudo, responsabilidade. Tece opinião fundada e assumida. Não se esconde. Não se furta ao debate. A pública e ruidosa destruição de um livro é uma cerimónia simbólica, um rito que expressa a ilegítima superioridade daquele que, ao destruir, pretende silenciar o outro – aquele que não pensa igual.

Se houve coisa que incorporámos com Abril foi a tolerância perante opiniões diversas das nossas. Aprendemos a falar com liberdade e a ouvir com respeito. Foi uma aprendizagem longa e bem-sucedida. Sabíamos conviver, pacificamente, com crenças diferentes das nossas.

Mas, desta feita, não foi só a obra que foi vandalizada. Foi ameaçada a ordem e ostensivamente provocados os agentes da polícia. Os manifestantes foram ousados e excederam-se nas atitudes.

A emergência dos populismos e dos extremismos ameaça a paz social que conhecemos nas últimas décadas. É já uma realidade em vários países europeus e instala-se entre nós.

A memória histórica dos Portugueses, mesmo a mais próxima, não se impõe a um presente orientado pelo imediatismo e pela ignorância de quem tudo sabe, e cede perante a cegueira das emoções coletivas.

Não obedecendo, necessariamente, a ideologias ou, sequer, a objetivos é, por si só, uma dinâmica de protestos que se torna rotina, ganha os adeptos do descontentamento e mina a estrutura social do país.