Os alunos portugueses estão pior a matemática. A situação é partilhada por Mónica Conde, professora da disciplina de Matemática há 25 anos. Mónica Conde, que dá aulas na Escola Secundária Pedro Alexandrino, em Odivelas, considera que os estudantes apresentam mais dificuldades do que há 10 ou 15 anos: “Temos de começar com atividades mais simples para que os alunos consigam atingir os mesmos objetivos. Há uns anos começava-se com atividades mais complexas”, diz. Ainda assim, ressalva que esta situação “não é igual para todos” os alunos.
Um panorama partilhado por Filipe Oliveira, professor associado do Departamento de Matemática do ISEG-Universidade de Lisboa, que aponta para os resultados dos exames do Trends in International Mathematics and Science Study (TIMSS), onde os alunos portugueses manifestam um desempenho decrescente desde 2019.
O TIMSS é uma avaliação internacional de desempenho de alunos do 4.º e do 8.º ano de escolaridade nas disciplinas de Matemática e Ciências. Realiza-se a cada quatro anos.
Para Filipe Oliveira, os resultados negativos são consequência de um conjunto de medidas dos governos na área da educação. Aponta o dedo à “cartilha do facilitismo e o fim da exigência” como a causa principal para esta descida. “Acabaram com os programas de Matemática, as metas [curriculares] foram substituídas pelas aprendizagens essenciais. São documentos muito fraquinhos, que só exigem o mínimo dos mínimos”, argumenta Filipe Oliveira. Em 2016, o fim dos exames nacionais do 4.º e 6.º ano – substituídos por provas de aferição para o 2.º, 5.º e 8.º anos – durante o governo socialista de António Costa é outra causa apontada pelo matemático.
O 24Horas contactou Tiago Brandão Rodrigues, ministro da Educação entre 2015 e 2022 e um dos responsáveis pelas políticas públicas aplicadas na educação durante esse período, mas o ex-governante não quis prestar declarações.
Os resultados negativos já tinham sido previstos por Filipe Oliveira. Num artigo publicado no Observador em setembro de 2017, intitulado “Educação: o fim anunciado de uma era de grandes sucessos”,o professor universitário expressava as suas preocupações com as drásticas mudanças feitas no ensino durante o governo liderado por António Costa.
Portugal participou pela primeira vez nos exames do TIMSS em 1995. Nessa altura, os resultados foram desapontantes. Fosse no 4.º ou 8.º ano, Portugal estava nos últimos lugares do ranking, ficando apenas à frente de países como o Irão ou o Kuwait.
Só em 2011 é que os alunos portugueses, e apenas os do 4.º ano, voltaram a participar nesta avaliação. Os resultados foram bastante superiores aos de há 16 anos. A tendência positiva manteve-se em 2015 tendo os alunos do 4.º melhorado ainda mais as notas. Filipe Oliveira explica esta subida com o facto de se ter incluído os exames nacionais no sistema de ensino: “Começámos a avaliar os alunos e a ter dados sobre as suas prestações com os exames nacionais.” O investimento e certificação em manuais escolares também ajudou a melhorar o nível dos alunos portugueses até porque antes “os manuais escolares tinham muitos erros”, assegura o professor universitário.
Depois de anos com medidas que considera terem ajudado nas aprendizagens dos alunos a matemática, Filipe Oliveira ficou incrédulo com as políticas públicas que foram aplicadas a partir de 2015: “Experimentaram coisas que nunca se tinha visto.”
No último verão, o governo de Luís Montenegro substituiu as provas de aferição dos 2.º, 5.º e 8.º anos por provas de monitorização da aprendizagem. O objetivo é que estas novas provas sejam realizadas no final do 1.º e 2.º ciclo. As notas das provas de monotorização da aprendizagem, tal como as provas de aferição, não têm influência na nota final dos alunos.