A tarde de terça-feira, 9 de Dezembro de 2025, ficou marcada por tensão política em Brasília. O deputado Glauber Braga ocupou a cadeira da presidência da Câmara dos Deputados, numa acção de protesto contra o processo de cassação de mandato que será votado pelo plenário esta quarta-feira. O gesto inesperado levou à suspensão da sessão e à intervenção da polícia legislativa.
Braga, filiado ao PSOL, sentou-se na Mesa Diretora antes do início dos trabalhos e declarou que permaneceria “até ao limite das minhas forças”. Afirmou que pretendia denunciar aquilo que considera uma aplicação desigual das punições disciplinares dentro da Casa, recordando que outros deputados que já ocuparam ilegalmente o plenário não sofreram consequências semelhantes.
Perante a recusa em abandonar o assento, os agentes de segurança, por ordem do Presidente da Câmara Hugo Motta, começaram por retirar jornalistas e assessores do plenário, interrompendo também a transmissão televisiva oficial. Minutos depois, o deputado foi retirado à força, sob protestos de aliados e de parte da oposição. O ambiente tornou-se ainda mais tenso quando vários parlamentares deixaram o plenário em solidariedade, levando ao encerramento da sessão.
O protesto ocorre no mesmo momento em que a Câmara se prepara para votar não só o caso de Glauber Braga, mas também o polémico projecto que prevê rever e reduzir penas de condenados pelos actos de 8 de Janeiro de 2023. Para o deputado, a coincidência das pautas demonstra incoerência institucional e serve para reforçar o carácter político da sua cassação.
O processo disciplinar que motivou o pedido de perda de mandato baseia-se numa agressão ocorrida em 2024 dentro das dependências da Câmara, envolvendo um militante ligado a um grupo de direita. O Conselho de Ética aprovou o parecer pela cassação, e todas as tentativas de recurso foram rejeitadas.
O episódio de terça-feira reacendeu o debate sobre transparência, proporcionalidade nas punições e o clima de polarização que domina o Parlamento brasileiro. Para apoiantes de Braga, a sua acção simboliza resistência. Para os defensores da cassação, reforça o argumento de que o deputado ultrapassa os limites do decoro parlamentar.
A votação desta quarta-feira será decisiva. Caso seja cassado, Braga perde o mandato e pode ficar impedido de concorrer nas próximas eleições. Caso mantenha o cargo, o protesto de ontem poderá ganhar força como bandeira política e discurso de perseguição.