László Bölöni, de 72 anos, falou abertamente sobre alguns dos momentos mais marcantes da carreira e dedicou parte considerável da conversa ao período em que orientou o Sporting, onde foi campeão nacional. O treinador romeno recordou, numa entrevista ao canal de YouTube Vorbitorincii, a relação complicada com Mário Jardel (52) e os episódios que, segundo ele, precipitaram a saída do avançado.
“O jogador mais difícil de treinar e aquele com quem tive mais problemas foi Jardel. O pai e a mãe dele eram alcoólicos, o problema era esse. Eu escrevia a equipa no quadro, na presença dos jogadores, colocava-o no onze e o médico fazia-me sinal de que não era possível, porque o Jardel estava com… [passa os dedos pelo nariz]. Eles faziam o teste, para percebermos se o médico lhe podia dar luz verde para jogar, e ele estava positivo”, começou por afirmar.
Bölöni recordou também as tentativas pessoais para tentar recuperar o jogador: “Eu era um treinador jovem, fiz um grande esforço. Estou em paz com a minha consciência, fiz o que pensava estar certo. Um dia, disse-lhe: ‘Ouve, vou levar-te para o estágio comigo. Vamos e ficamos lá fechados, eu no meu quarto e tu no teu. Conversamos, comemos, treinamos, corremos…’ Ele concordou. Fiquei com as chaves do carro e dormi com ele no centro de estágios. Eu estava a fazer horas extras, nessa segunda época. Além disso, telefonava para o Brasil, falava com a mulher dele, a Karen, e com a filha. Começou tudo bem, mas, depois, tornou-se terrível.”
A situação acabou por se tornar insustentável. “Ao fim de seis dias, ele disse-me: ‘Não me sinto bem, vou ter de sair durante algum tempo, mas volto’. Respondi-lhe: ‘Mário, eu conheço-te. Não vais a lado nenhum. Vamos lá para fora, vamos correr, fazer um exercício’. E ele: ‘Sim, sim, mas eu volto’. Eu sabia que ele nunca mais iria voltar. Fez uma chamada, chegou um táxi e ele desapareceu.”
Bölöni tinha chegado a Alvalade, no verão de 2001, depois de deixar o comando técnico da seleção romena, e assumiu o cargo com a responsabilidade de suceder ao treinador que tinha devolvido o título de campeão ao Sporting, após quase duas décadas de espera. A sua primeira época foi coroada de êxito, muito graças ao desempenho extraordinário de Jardel, que assinou números históricos: 55 golos em 42 partidas, 42 deles no campeonato, garantindo a Bota de Ouro.
A temporada seguinte, porém, não teve o mesmo desfecho. O avançado brasileiro atravessou uma fase difícil, envolveu-se em várias polémicas e o seu rendimento caiu de forma evidente. Acabou por deixar os leões a meio da época, rumando ao Bolton Wanderers. A equipa ressentiu-se, fechando a Liga no 3.º lugar, e Bölöni admitiu que a perda do goleador teve impacto direto no desempenho coletivo.
“Perder Mário Jardel, na minha segunda época no Sporting, foi uma grande derrota, para mim. Ele tinha marcado mais de 40 golos, na primeira temporada. Na segunda, estava em 6”, lamentou.
