O 24Horas quis apurar se é possível o Museu do Tesouro Real ser alvo de um assalto semelhante ao que aconteceu no Louvre, em Paris. E sim, é possível. “O que tenho para lhe dizer é que por muita segurança, não é um sistema infalível”, afiança Hugo Costeira, especialista em segurança e antigo presidente do Observatório de Segurança Interna.
O especialista explica como funciona, em geral, a segurança deste tipo de locais. “A segurança existe quando projetamos uma série de riscos, assumimos que esses riscos existem, e tentamos colmatá-los, com redundâncias, para proteger as possibilidades dos nossos sistemas falharem. Porque podem falhar. E se alguma coisa falhar, que os sistemas de alerta permitam avisar as autoridades e que as autoridades cheguem, ao local, com a maior rapidez possível”.
Depois há a perspetiva dos ladrões. “Do outro lado há, muitas vezes, vontade, determinação, há conhecimento, há profissionalismo e há, muitas vezes, informação interna”. É preciso que locais como o Museu do Tesouro Real tenham muita atenção aos profissionais que contratam, em todas as áreas. “Aquilo que fizeram no Louvre obviamente que exigiu preparação, estudo e, acho eu, que terá seguramente exigido informação interna”, explica Hugo Costeira.
O antigo presidente do Observatório de Segurança Interna detalha: “Há sempre uma ameaça interna. e estes espaços têm de ter cuidado com a ameaça interna. É importante saber quem contratam, saber se os colaboradores que trabalham connosco têm problemas. Que tipo de problemas têm e se têm problemas capazes de facilitar a corrupção, o aceitar uma vantagem patrimonial, como dinheiro, em detrimento de darem informação que fragilizem as instalações”.
O Museu do Tesouro Real, anexo ao Palácio da Ajuda, em Lisboa, acolhe inúmeras joias que pertenceram a membros da Coroa Portuguesa. Além de joias, há ouro e diamantes do Brasil, moedas e medalhas da coroa, ordens honoríficas, insígnias régias, prata de aparato da coroa, coleções particulares, ofertas diplomáticas, bens da capela real, mesa real, num conjunto cujo valor é praticamente incalculável. Mas… não está a salvo. “Nenhum espaço está verdadeiramente protegido de um assalto. De um lado há os sistemas que temos instalados, a capacidade de resposta deles e os graus de redundância que têm; do outro, a determinação e conhecimento de quem os quer assaltar”.
Ainda assim, para entrar no Museu do Tesouro Real há uma aparente segurança absoluta, a começar pelas entradas dos visitantes. O 24Horas esteve no local e fez-se passar por turista. Assim que chegámos à porta do museu somos, imediatamente, abordados por dois seguranças. Dizemos que queremos visitar o museu. Como resposta, algo fora do habitual: “Para entrar tem de deixar todos os pertences num cacifo. Só pode entrar com a carteira e o telemóvel”. Do lado de fora é possível observar inúmeras câmaras de vídeovigilância.
Hugo Costeira assume: “Não devemos achar que há sítios impenetráveis, porque não há”. E termina com um exemplo. “O Banco de Portugal de Braga foi assaltado. Fizeram um buraco numa garagem para aceder ao cofre. Sabiam que aquele parque público seria paredes meias com o cofre e entraram. E ninguém se deu conta, só na segunda-feira seguinte.”
O 24Horas contactou o museu e o ministério da Cultura. A única resposta que obtivemos foi: “Informo que a Museus e Monumentos de Portugal, E.P.E. tem em vigor protocolos de segurança que são naturalmente reservados, matéria sobre a qual deseja manter a discrição que vê como essencial”, escreveu, por email, Lino Teixeira, da Museus e Monumentos de Portugal, departamento da tutela do ministério da Cultura.




