Viajar de automóvel 100% elétrico no nosso país tem muito que se lhe diga! As novas formas de mobilidade na Europa estão em constante evolução e, dependendo da viagem que pretendemos realizar, é fundamental planear o percurso com antecedência para que corra tudo bem.
Nesta aventura elétrica do Motor 24 Horas, partimos de Cascais com a cidade de Vizela como destino para visitar alguns familiares e amigos. Utilizamos aplicações como a Miio e a Electromaps para verificar informações fundamentais, como localização dos carregadores, velocidades de carregamento, se tinham sido utilizados recentemente – para evitar postos avariados – e verificar os preços tendo como base a informação de que o valor a pagar pode variar entre €0,30 e €0,60/kWh, dependendo da velocidade de carregamento, taxa de ativação e impostos. A nossa intenção era “fugir” ao máximo aos carregadores nas autoestradas – mais caros e ocupados.


O eleito para esta viagem de três dias e 800 km foi o Renault 4 E-Tech na variante mais potente, com uma bateria de 52 kWh e uma autonomia de 400 km. Os valores máximos que conseguimos em autoestrada rondam os 350 km de autonomia, mas (e há sempre um mas… nestas coisas dos automóveis) é fundamental utilizar o modo de condução “Eco”, que não permite velocidades acima dos 115 km/h.
Ou seja, para conseguirmos os 400 km de autonomia anunciados teria de ser uma viagem de circuito misto, entre estrada “aberta” e um percurso mais urbano.

Uma viagem de carro elétrico gera sempre alguma ansiedade e a nossa cabeça parece uma calculadora sobre rodas. Durante as férias de verão, o trânsito aumenta exponencialmente nas estradas nacionais. O nosso primeiro ponto de paragem foi o Fórum Coimbra, a meio caminho do nosso destino, pois é muito central e tem vários pontos de carregamento nas proximidades.
O carregador desta área comercial situa-se na parte superior e funciona bem: a velocidade não é muito elevada (11 kWh), mas o preço a pagar por minuto compensa.
Depois de uma refeição ligeira e de uma breve visita ao centro da cidade, regressámos à A1 – Autoestrada do Norte. O carregamento colocou mais 100 km de autonomia na bateria e decidimos avançar até perto do Porto. O calor aumentava, ligámos o ar condicionado, decidimos ouvir as notícias no rádio para saber o estado dos incêndios, neste que está a ser um ano dramático…


Ai que isto não chega a Vizela!
Ao volante do Renault 4 E-Tech o conforto é muito aceitável. Materiais de boa qualidade, na nossa opinião o interior do carro até está ligeiramente mais refinado do que quando comparado com o “primo” Renault 5 E-Tech, que também já testámos aqui no Motor 24 Horas.
A autonomia total aproxima-se dos 100 km quando faltam percorrer 70 km para chegarmos ao nosso destino. Decidimos não arriscar até porque não há garantia de que o posto de carregamento em Vizela esteja a funcionar e depois…reboque!
Preferimos conduzir com o auxílio do Waze em estrada, mas a verdade é que quando chega a altura de tomar este tipo de decisões em andamento prefiro recorrer ao sistema by Google visível no ecrã do painel de instrumentos de 10″ do Renault 4 E-Tech para procurar carregadores.
A opção mais próxima são os rápidos dos Intermarché na saída da autoestrada, no acesso a Espinho. O cansaço e a ansiedade começam a dar sinais, mas, mais uma vez, optámos por evitar os pontos de carregamento das áreas de serviço da autoestrada onde já vivemos péssimas experiências financeiras.

A autonomia desta versão, com bateria de 52 kWh, é de 410 km em ciclo WLTP (norma europeia de medição da autonomia) e, neste caso, a opção de procurar recorrer às patilhas no volante para utilizar a travagem regenerativa regulável (4 níveis) não serve de grande coisa em autoestrada.
O 4 E-Tech é um SUV e, nesta versão, permite uma velocidade máxima de 150 km/h. Para este tipo de viagem chega e sobra, no trânsito citadino não se porta nada mal e no momento do arranque acelera dos 0 aos 100 km/h em 8, 2 segundos. Para um automóvel com 4,144 metros e uma tonelada e meia (1.462 kg) é bastante aceitável.

No segundo dia tínhamos previsto carregar no posto de carregamento lento em Vizela, mais barato, junto ao centro, mas esteve sempre muito ocupado e a alternativa foi mesmo carregar no semirrápido de 30 kWh do Pingo Doce. Bom tempo, carro carregado, e visitámos Guimarães. Os consumos médios continuaram a não fugir muito aos 16 kWh/100 km.






A cidade de Guimarães é visita obrigatória. O centro histórico está repleto de esplanadas e aproveitámos para visitar a igreja de Nossa Senhora da Consolação e Santos Passos e o jardim do Largo da República do Brasil
O Renault 4 E-Tech revelou-se um bom companheiro de viagem. Não podemos deixar de referir que a versão mais acessível, de 122 cv, inclui uma bateria de 40 kWh e promete cerca de 300 km de autonomia.



Este 100% elétrico é mais do que um revivalismo à procura de sucesso comercial. Há semelhança do que acontece com modelos como o best-seller Fiat 500, VW ID e Buzz, e, mais recentemente, 5 E-Tech, também o Renault 4 E-Tech interpreta o que de melhor podemos encontrar num automóvel retro.
Conforto não falta e as costas agradecem. Conduzir o 4 E-Tech é um regresso ao passado com o futuro no horizonte. O novo modelo tem muito do ADN do icónico automóvel que já foi apelidado de precursor dos SUV modernos e que chegou a conseguir um terceiro lugar no Dakar em 1980.
Temos à nossa disposição os sistemas de apoio à condução mais atuais, onde destacamos a assistência à travagem de emergência com deteção de peões, ciclistas e função de cruzamento; alerta de fadiga e de distância de segurança.

Olhamos para o lado, muito trânsito na estrada, o Renault 4 E-Tech nesta cor azul nuage, com tejadilho preto, continua a conquistar os sorrisos de quem nos ultrapassa. Alguns dizem adeus, outros acenam e apontam. Quem não se lembra do clássico 4L e da sua caixa “em vareta” de quatro velocidades?
O interior do novo Renault 4 E-Tech é espaçoso e os locais para guardar pequenos objetos são variados. É um automóvel jovem, mas, ao mesmo tempo, refinado. A capacidade da bagageira com os bancos na sua posição normal é de 375 litros.


O sistema de infoentretenimento fornece toda a informação necessária para conduzirmos de forma descontraída. Equipamento com a ajuda Google sempre a monitorizar a capacidade da bateria e a autonomia.
No último dia desta viagem, fizemos questão de ir almoçar uma francesinha ao restaurante ‘O Afonso’, conhecido por ser um “mini-museu” gastronómico de homenagem a Ayrton Senna, com miniaturas, capacetes e várias fotografias do famoso piloto brasileiro.
A partir do meio-dia, a fila aumenta. Dezenas de pessoas (portugueses e muitos estrangeiros) confirmam que estamos na presença de uma das melhores francesinhas do Porto quando falamos de procurar uma boa relação qualidade/preço.
Em 2017, o famoso crítico gastronómico Anthony Bourdain esteve no ‘O Afonso’ e deu a francesinha a conhecer no seu programa na CNN Internacional. A partir dessa altura, o nome deste restaurante passou a integrar os principais guias da cidade do Porto.


O preço médio das francesinhas ronda os €14
A cidade do Porto continua com uma energia e uma luz muito própria. O ideal é estacionar o automóvel e percorrer os cantos mais recônditos e as tascas mais escondidas de forma a evitar o turismo em larga escala e os preços para estrangeiro ver…
Procurámos um parque de estacionamento na rua Duque de Loulé, perto da ribeira do Porto, onde fosse possível carregar o Renault 4 E-Tech durante o nosso passeio. Tivemos pouca sorte. Entrámos, retirámos o bilhete, mas os postos de carregamento (os antigos e brancos da Mobi.E encontravam-se todos avariados).
A opção foi dar um salto a uma área de serviço para um carregamento rápido mas, claro, com prejuízo para a carteira. A manutenção dos pontos de carregamento deixa muito a desejar, como tem alertado, constantemente, a UVE – Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos.








Uma boa sugestão para um final de tarde diferente no Porto é, sem dúvida, estacionar e percorrer a pé o interior do parque da cidade, ali a meio caminho entre a Av.ª da Boavista, o Castelo do Queijo e Matosinhos. Aconselhamos uma bebida refrescante e uma tosta no “Soundwich” para descontrair e ganhar coragem para a viagem de regresso.

Rumo a Lisboa com o Renault 4 E-Tech carregado, a opção foi desviar desta vez em Leiria para carregar a bateria. A nossa intenção era não perder muito tempo e a opção foi o posto de carregamento de uma área de serviço.
Na versão ensaiada que pode ver nas imagens, Iconic, o preço a pagar é de €40.790.
É importante referir que na versão Evolution, com 120 cv, está à venda a partir de €29.500.



Quanto gastámos em eletricidade:
No total, gastámos €70 em eletricidade nos carregamentos (já com IVA) e as taxas habituais incluídas. Neste tipo de viagens, a escolha dos pontos de carregamento e a hora a que carregamos faz toda a diferença. Estamos a falar de cerca de 800 km de estrada em três dias de viagem.
Se tem um carro a gasolina ou um Diesel, para realizar os mesmos quilómetros, a despesa não deverá fugir muito deste valor (desde que não seja um V8 biturbo ou outro carro “guloso”). A poluição será maior, a ansiedade será menor…como dizia um antigo primeiro-ministro, é fazer as contas!