O Orçamento de Estado para 2026, que tem aprovação garantida na generalidade, com a abstenção do PS, começou a ser debatido, esta segunda-feira, dia 27, na Assembleia da República. Coube ao primeiro-ministro, Luís Montenegro, fazer a primeira intervenção no Parlamento, sendo André Ventura, o líder do maior partido da oposição, a realizar a primeira ronda de pedidos de esclarecimentos. O que se seguiu foi uma autêntica batalha entre os dois, com acusações e farpas à mistura.
Luís Montenegro começou por descrever que este é o Orçamento do “crescimento económico e do crescimento de rendimentos”, prometendo “menos impostos” e “mais investimento”. Além disso, o primeiro-ministro garantiu a descida do IRS, o aumento do salário médio e a subida de todas as pensões. O discurso do líder do Governo não agradou a André Ventura, que assim que tomou a palavra comparou o primeiro-ministro ao antecessor: “O que quer fazer é isto: dar com uma mãe e tirar com a outra, como nos sete anos do PS. Dizia-se que se ia baixar o que quer que fosse e carregava-se no IVA ou nos impostos indiretos. O António Costa a engordar e o povo a emagrecer. Depois chegou o senhor primeiro-ministro e disse que não íamos aumentar impostos nenhuns. Mas o Governo prevê arrecadar, em 2026, mais 187 milhões de euros com o ISP, o imposto sobre os combustíveis. Os senhores vão sacar dinheiro aos portugueses na gasolina e no gasóleo. E têm de dizer isso.”
ATAQUE CERRADO E O CONTRA-ATAQUE DE MONTENEGRO
Durante os 5 minutos que teve para falar, André Ventura fez um ataque cerrado a Luís Montenegro, garantindo que tem dúvidas se o primeiro-ministro vive no País e se conhece os portugueses. “Portugal é uma referência de bandalheira e desleixo no mundo inteiro”, garantiu, dando como exemplos o salário mínimo, o descontrolo da imigração e os preços dos combustíveis.
O contra-ataque de Montenegro não tardou, garantindo que vive em Portugal e ao afirmar que não tem saudade do País de há mais de 50 anos, numa alusão a uma entrevista dada por André Ventura, onde referiu que “eram precisos três Salazares” para endireitarem Portugal. “Se o senhor deputado quer juntar a três Salazares, três Pedro Sanchéz, é uma opção sua, mas não é minha”, atirou.
Porém, André Ventura não se deixou ficar e acusou Luís Montenegro de insultar o Chega ao insinuar que a bancada tinha saudades do tempo da ditadura. “Não tenho saudades nenhumas de nenhum tempo anterior àquele em que era nascido, mas sei uma coisa. Sei que, se calhar, se tivéssemos um, dois, três Salazar tínhamos menos corrupção neste País”, disse.
Em resposta, o primeiro-ministro recusou a ideia de que a ditadura pode combater a democracia e garantiu que essa luta só pode ser feita de forma democrática: “A ditadura é, ela própria, a corrupção.”
ISP PROVOCA NOVA DISCÓRDIA
Luís Montenegro acusou ainda o presidente do Chega de contaminar o debate, por ter falado num aumento do ISP penalizador para os contribuintes. “É possível termos contas equilibradas no país sem aumentar impostos. E é possível termos contas equilibradas no país sem meter na gaveta os investimentos”, destacou.
Recorde-se que o Chega tem apontado o ISP como uma das linhas vermelhas para decidir o sentido de voto do partido. André Ventura chegou mesmo a dizer que “o Governo prevê arrecadar mais 187 milhões de euros” com o imposto sobre os produtos petrolíferos, antecipando que o Executivo vai “sacar dinheiro aos portugueses no próximo ano”.